Câncer de pele*
Prevenção contra o câncer de pele
NATÁLIA SOUZA MEDEIROS, dermatologista
Entrevista: JESSICA CARDOSO.**
"Apesar de o câncer de pele ser a doença com mais incidência no país, poucas pessoas dão importância para os cuidados que devem ser tomados como forma de prevenção. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), 180 mil casos da doença são registrados por ano. Em 2019, ocorreram 2.470 novos casos da doença somente no Distrito Federal. Em entrevista ao CB Saúde -- parceria entre o Correio e a TV Brasília -- ontem, a dermatologista do Hospital Santa Lúcia Natália Souza Medeiros chamou a atenção para os cuidados que as pessoas devem ter com a pele. "É muito importante que toda a população se conscientize e comece a se proteger desde cedo. O uso do protetor solar deve se tornar um hábito para as pessoas", alertou.
Por que as pessoas, tendo tantas informações sobre câncer de pele, ainda não se protegem e não seguem as regras recomendas pelos médicos?
O Dezembro Laranja traz esse alerta para a gente sobre o câncer de pele, que é um tema muito abordado, mas é, muitas vezes, ignorado pelas pessoas de forma geral. A maioria das pessoas não criou esse hábito (de cuidado com a pele), que deve ser instituído nas crianças e levado para a fase adulta. O dano solar é cumulativo. Todo mundo tem um pouco de exposição solar todos os dias, e esse pouquinho, com o passar dos anos, vai levar ao câncer de pele.
Quanto tempo dura a proteção de um protetor solar?
A duração do protetor solar depende muito do tempo de exposição do paciente. Se a pessoa trabalha exposta ao sol, a recomendação é que o produto seja passado a cada duas horas. Se é alguém que fica em um lugar mais fechado, o ideal é passar antes de sair de casa, pela manhã, e antes do almoço para se proteger da radiação solar no período da tarde. Então, essa necessidade de passar muitas vezes é para quem está mais exposto.
É muito grande a incidência de câncer de pele nos trabalhadores mais expostos, como os que atuam em construção?
Sim. O câncer de pele, de uma forma geral, é uma doença de alta incidência. Segundo o Instituto Nacional do Câncer, cerca de 33% dos cânceres diagnosticados são de pele aqui no Brasil. Então, é um câncer de alta incidência, apesar da baixa mortalidade, dependendo do tipo que o paciente desenvolver. Por ser um número grande, a gente tem que criar esse hábito (de usar protetor solar) principalmente nos trabalhadores que estão muito expostos ao sol durante o dia.
Qual é a mortlidade?
Dos 180 mil, 8 mil casos são do tipo melanoma, que é um câncer que tem uma maior taxa de mortalidade, por ser mais agressivo. Porém, com diagnóstico precoce, nós temos uma alta taxa de cura. O paciente que demora muito a ter um diagnóstico acaba tendo deformidades, como uma cicatrização no rosto.
Como podemos identificar o câncer de pele?
O câncer de pele é dividido entre o tipo melanoma e não melanoma. O melanoma, que é mais agressivo, se parece com uma pinta, um sinal escuro. Geralmente tem formato assimétrico e as bordas são irregulares. Tem mais de uma cor em sua composição, como marrom, preto e cinza, e é uma lesão que tem um crescimento rápido. Normalmente, não há dor associada, mas pode ter sangramento e formar uma ferida que não cicatriza.
O SUS está preparado para atender as pessoas que têm câncer de pele?
Infelizmente, a gente vê que a demanda é muito alta para uma pequena quantidade de profissionais contratados na área. Nós precisamos realmente de um número maior. Eu fiz a minha residência no Hospital Universitário de Brasília e, lá, nós tínhamos filas imensas de pacientes aguardando a cirurgia para remoção do câncer de pele.
Além do protetor solar, existem outros mecanismos de proteção?
Sim. Há as barreiras físicas. Usar roupas que cobrem mais pele, chapéu e guarda-sol é importante para ajudar na proteção. Uma roupa de algodão auxilia muito a barrar a radiação solar. E, para quem quiser olhar roupas que têm proteção ultravioleta, existem lojas especilizadas que o paciente pode procurar.
Por causa da pandemia, muitas pessoas abandonaram o tratamento. Qual é o risco disso?
Realmente, a gente acabou adiando as cirurgias dos tipos não melanoma por não ter tanta emergência de operar. No entanto, é importante que elas voltem assim que for possível, porque, quanto mais tempo passar, mais a doença vai avançando.
Os tratamentos realizados no Brasil podem se equiparar com os relizados em países desenvolvidos?
No Brasil, a maior dificuldade continua sendo o acesso às cirurgias. Nós temos técnicas, como a cirurgia micrográfica de Mohs, em que nós não precisamos tirar a lesão com margem de pele tão grande como a gente faz na cirurgia tradicional. Na questão da estética, esse tipo de técnica é ideal. No entanto, esse tipo de cirurgia é mais cara, o plano de saúde normalmente não cobre e a rede pública de saúde não realiza esse tipo de p ocedimento.
* Drª Natália Souza Medeiros, dermatoligista (CB, 11/12/2020, Cidades, p. 17).
** Estgiária sob a supervisão de Mariana Niederauer.
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