Ouvi nítido meu pai dizer, de expressão facial emoldurada em espanto, seriamente surpreendido com algo que lhe tomava o raciocínio: "O miúdo é um génio!".
Seduzido pelo imponente volante do novo autocarro, a fingir de motorista e a simular o motor do veículo a trabalhar nos lábios, ouvi, mas cuidei apenas que estava a conduzir bem a bisarma, e continuei indiferente à realidade dos preocupados adultos.
Afinal o que é que eu tinha feito de genial? De tanto mexer em quantos botões interruptores o painel do condutor continha, acendi o sistema luminoso que servia para assinalar o volume do autocarro em trânsito nocturno.
Havia três dias que ninguém da empresa transportadora descobria como se efectuava essa ligação e estava-se a tratar de telefonar para a Alemanha, para a firma fornecedora da marca, ainda que ninguém soubesse falar alemão.
Logo que pude raciocinar correcto sobre esta peripécia tão banal, chegou então a minha vez de ficar também surpreendido e daí embasbacado com a irionia da vida que por aí anda aos montes a criar génios.
Ah... Passados dias veio o prémio pela descoberta, uma bicleta encarnada para o meu tamanho. Ena vida... Que alegria!