Navegando na Usina, deparei-me com a sua opinião à respeito da diferença entre homens e mulheres no modo como escrevem com relação do erotismo.
Na oportunidade venho respeitosamente discordar da amiga no que respeita ao tema abordado, uma vez que tanto homens quanto mulheres são dotados dos mesmos sentimentos. No entanto, sem o menor resquício preconceituoso choca-me, também, o modo como alguns se referem às mulheres bem como as suas partes íntimas utilizando termos "chulos" que na maioria das vezes se revestem de uma impropriedade à toda prova. Daí a grande diferença entre erótico e pornográfico.
Asseguro-lhe que existem contos eróticos escritos por homens que se revestem de uma elegância digna de uma verdadeira obra literária. Ao contrário, algumas vezes o emprego de termos chulos não somente denigrem a idéia quanto maculam o autor. Não saberia dizer se aqueles que assim procedem buscam no pornográfico uma auto-afirmação por não se sentirem verdadeiramente homens. Talvez acreditem que romantismo, ternura, sensibilidade são exclusividades femininas. Na concepção da grande maioria, ser homem está associado à força física; à agressividade; ao despudor.
Nós homens verdadeiros também temos sentimentos como voces mulheres. Somos dotados de romantismo; de delicadeza; enfim, de sentimentos elevados. Somos detentores de uma sexualidade idêntica à de voces mulheres com a diferença de possuí-las enquanto voces de serem possuídas. Num relacionamento íntimo, são os mesmos anseios que se fazem presentes: abraçar e ser abraçado; acariciar e ser acariciado; beijar e ser beijado. Estimular todos os sentidos: visão, tato, audição, olfação, gosto, na busca da sublimação do orgasmo.
Portanto, homens e mulheres se completam na mais perene harmonia sem que para tanto haja a supremacia de qualquer um dos dois.
Ai dos homens se não fossem voces mulheres que trazem num olhar; num gesto delicado; no cheiro de fêmea exalado, a exacerbar toda a nossa sexualidade.
Finalmente minha amiga, ignore esses que se dizem "machos"; que procuram através de um palavreado inconveniente, pornográfico, uma auto-afirmação que eles próprios duvidam. Acredito que na base do erotismo está a sexualidade que nada mais é do que uma necessidade como a fome, a sede ou qualquer outra manifestação da vida do nosso corpo. A emoção erótica nos enche a alma inteira, mais do que qualquer outra emoção, de ilusão e de idealizações espirituais. À cada olhar que lançamos sem preconceito sobre a essência do erotismo assistimos, de algum modo, a um espetáculo dos primeiros tempos, das origens, o nascimento pelo qual a matriz universal da fisiologia dá à luz a vida psíquica em todo o seu esplendor.
Generalizar é duvidoso; particularizar reveste-se-nos mais apropriado.
