Dizem que a história ocorreu lá em Patos de Minas. Não tem importância se não for verdade. A verdade está sempre na boca de quem fala, no papel de quem escreve, no cérebro que emana vibrações elétricas e obriga o corpo a emitir mensagens.
Mas o fato é que Zequinha Gozador incomodava o povo da cidade. Sem qualquer noção de medo, desafiava os valentões com piadas, mexia com mulheres casadas, zombava de policiais e não raro levava uns sopapos pela língua excessivamente ferina.
Era costume ser contratado por políticos para inventar frases de efeito nos comícios. Durante algum tempo faturou com seus improvisos e garatujas. Depois armaram esquemas para impedirem sua presença, já que o povo se juntava pra rir das autoridades constituídas, incentivando o rosário de palavras.
Zequinha foi criado na rua, meio educado por lavadeiras, prostitutas, chapas, homens sem muito padrão de respeito e língua solta. Aos quatorze já andava na zona do meretrício, onde aprendeu as artes do amor. A vida veio sem mistérios e sem mentiras. A verdade brotava dos beiços como se fosse água passando pelo rio.
Teve muitas namoradas, mas gostou mesmo da Valquíria, a quem perdeu por zombar da possível sogra. A mulher usava dentadura muito gasta, que foi comparada com um sapato velho que o tio de Zequinha possuía, baixo de um lado, fazendo com que o homem mancasse. No caso da mulher a sopa escorria pelo canto da boca, especialmente as de carne com verdura.
Levou vassouradas da moça pela gozação, tão logo a senhora começou a chorar do comentário infeliz.
Apanhou também do delegado quando ao invés de pedir a mão da filha sugeriu que fosse logo levantado o vestido, pois o interesse real não parava na mão.
Um dos amigos do Zequinha, Tomas Rolbes(nome escolhido pelo padre), arranjou uma companheira pouco beneficiada pela natureza, e com ela dividia um cômodo na vizinhança do gozador.
Todos os dias Rolbes se dirigia para o trabalho e passava em frente ao Zequinha, que começava a falar em dragões com o vigário, seu vizinho.
A princípio Rolbes não percebeu a coincidência, mas Zequinha não tinha outro assunto que não fosse dragões todos os dias, por volta das sete horas. Ao redor de Zequinha e do vigário ficavam alguns desocupados, que o homem de fé tinha vontade de converter. Um dia Zequinha falou sobre os dragões de Komodo. Enfezado pelas piadas sem graça Rolbes encheu o rosto de Zequinha com um murro certeiro. Voaram dentes para todos os lados. Zequinha ficou com a boca torta e esqueceu os dragões, inclusive a namorada do Rolbes.