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Contos-->A arma da tecla nunca nos falte ou algo a impeça !... -- 13/05/2003 - 19:10 (António Torre da Guia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Até parece coincidência...

O quadrado que estabelece com propriedade o baluarte mor da poesia em língua portuguesa pode representar-se por quatro enormes vates sem ofender outras elevadas mentes no domínio do verso: Camões, Bocage, Pessoa, Aleixo. De repente apercebi-me que seus nomes têm a espectacular coincidência de se exprimirem com seis letras.

Bocage enternece-me, emociona-me e motiva-me. Algo de coincidente comigo me apraz nele. O rasgo, a pugna constante em face das grilhetas espirituais que o seu tempo lhe impunha, o estilo, o ritmo de suas estrofes, enfim o seu iluminado estro bucólico de fio a pavio até à última lágrima da vela.

Tomo-lhe e tenho muito gosto em descrever resumidamente seu percurso e vivência atido a fontes de consulta fidedignas.

BocageBiografia

Poeta lírico e neoclássico português, tinha pretensão de vir a ser um segundo Camões, mas terá dissipado suas energias numa vida vertiginosamente agitada.

Nasceu em Setúbal, em 15.09.1765 e morreu em Lisboa a 21.12.1805 com 40 anos de idade, vítima de um aneurisma. Nos últimos anos o poeta vivia com uma irmã e uma sobrinha, sustentando-as com traduções de livros didácticos. Para viver seus últimos dias, inclusive, teve de valer-se de um amigo, José Pedro da Silva, que vendia pelas ruas de Lisboa suas derradeiras composições: "Improvisos de Bocage na Sua Mui Perigosa Enfermidade" e "Colecção dos Novos Improvisos de Bocage na Sua Moléstia".

Filho de um advogado, fugiu de casa aos 14 anos e incorporou-se no exército. Foi transferido para a Armada dois anos depois. Como integrante da Academia da Armada Real, em Lisboa, dedicou seu tempo a casos amorosos, poesia e exuberante boêmia.

Em 1786 foi enviado, tal qual seu dilecto herói Camões, para a Índia (Goa e Damão) e, também como Camões, desiludiu-se com o Oriente. Depois, por vontade própria e à revelia de seus superiores, dirigiu-se a Macau, voltando a Portugal em 1790.

Ingressou então na Nova Arcádia — uma academia literária com vagas vocações igualitárias e libertárias — usando o pseudónimo de Elmano Sadino. Todavia, de temperamento forte e violento, desentendeu-se com seus pares e suas sátiras a respeito deles ditaram-lhe a expulsão do grupo.

Seguiu-se uma longa guerrilha em versos que envolveu a maior parte dos poetas lisboetas. Em 1797, acusado de heresia, dissolução dos costumes e ideias republicanas, foi implacavelmente perseguido, julgado e condenado, sendo sucessivamente encarcerado em várias prisões portuguesas.

Em cativeiro realizou traduções de Virgílio, Ovídio, Tasso, Rousseau, Racine e Voltaire, que o ajudaram a sobreviver como homem livre no decurso dos anos seguintes. Ao recuperar a liberdade, graças à influência de amigos e com a promessa de criar juízo mais azado, o poeta, envelhecido e depauperado, abandona a boémia e zela até seus derradeiros momentos sua imagem, tentando impor-se à consideração de seus contemporâneos e demonstrar quanto possível um comportamento de homem arrependido, digno e de chefe de família exemplar.

Sua passagem pelo Convento dos Oratorianos, onde foi doutrinado logo após sua saída da cadeia, parece ter contribuído decisivamente para tal.

Portugal, na época de Bocage, era um império em ruínas, imerso no atraso, na decadência econômica e na libertinagem cortesã, feita às custas da miséria de servos e operários, perpetuando o pantanal cinzento do absolutismo e das atitudes inquisitoriais da Real Mesa Censória e dos calabouços destinados aos maçons e descontentes.

Ninguém encarnou melhor o espírito da classe dirigente lusitana do fim do século XVIII do que Pina Manique. Ex-policial e ex-juiz, conquistou a confiança dos poderosos, tornando-se o grande senhor do reinado de D. Maria I - só oficialmente reconhecida como louca em 1795 - reprimindo com grande ferocidade tudo o que pudesse lembrar as "abomináveis ideias francesas". Por ele, inúmeros sábios, cientistas e artistas conheceram o caminho do exílio.

Bocage usou vários tipos de versos, mas o seu melhor resplandece no soneto. Não obstante a estrutura neoclássica de sua obra poética, seu intenso tom pessoal, a freqüente violência na expressão e a auto-dramatizada obsessão face ao destino e à morte, anteciparam o dealbar do Romantismo. Suas poesias e Rimas foram publicadas em três volumes nos de 1791, 1799 e 1804. O último deles foi dedicado à Marquesa de Alorna, que passou a protegê-lo.

Os poemas não censurados do autor são geralmente convencionais e bajulatórios, copiando a lição dos mestres neoclássicos e abusando da mitologia, uma espécie de poesia académica feita por e para iniciados.

Outra parcela de sua obra é considerada pré-romântica, trazendo para poesia o mundo pessoal e subjetivo da paixão amorosa, do sofrimento e da morte. A sua poesia censurada surgiu da necessidade de agradar ao público que a pagava e lia com admirável precisão. O poeta punha o dedo acusador nas chagas sociais de um país de aristocracia decadente, aliada a um clero corrupto, comprometidos ambos com uma política interna e externa anacrónica para aquele momento.

Em Bocage também está presente a contínua exaltação do amor físico que, inspirado no modelo natural, varre longe todo o platonismo fictício de uma sociedade que via pecado e imoralidade em tudo o que não fosse convenientemente escondido.

AUTO RETRATO

Bocage

 

 
Magro de olhos azuis carão moreno
Bem servido de pés meão de altura
Triste de facha e o mesmo de figura
Nariz alto no meio não pequeno

Incapaz de assistir num só terreno
Mais propenso ao furor que à ternura
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno

Devoto incensador de mil deidades
Digo de moças mil num só momento
E somente no altar amando os frades

Eis Bocage em quem luz algum talento
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.

José Maria du Bocage

 
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