O dia que Capanguinha quis enganar a morte
Por Airam Ribeiro
31/10/04
Capanguinha na cidade
Tinha mania de valente
Mas corria feito um doido
Com medo da dor de dente.
De onça braba então
Borrava até o calção
Ficando até doente.
À noite no cemitério
Nunca tentou ele entrar
Pois o medo de defunto
Era mesmo de daná
Nunca foi numa praia
Com medo do peixe arraia
Levar-lhe para o mar.
Certa feita o medroso
Sentiu a morte chegar
Numa febre que teve
Ela mandou lhe avisar
Que era naquele dia
Que ela gostaria
De Capanguinha levar.
Ele falou pra mulher
A morte eu vou tapear
Vou lhe pregar uma peça
A ela vou enganar
Vou entrar neste caixote
Não vou dar meu cangote
Pra morte nenhuma cortar.
Quando a morte apareceu
Na casa de Capanguinha
Ele mais que depressa
Correu logo pra cozinha
Um caixote ele pegou
Abriu e nele entrou
Respirando da gretinha.
Com medo da dona morte
A mulher quis tapear
Oferecendo um café
Pra dona morte tomar
Os dois foram à cozinha
Já era de tardezinha
O sol começando entrar.
Então a morte falou
Onde está o Capanguinha
Eu prometi lhe levar
Nesta noite deste dia
Nem que a cobra dá o bote
Vou sentar neste caixote
Já está vindo à noitinha.
E nas tabuas do caixote
Começou a furar
E falando bem mais alto
Não parando de resmungar
Ele me falhou no trato
Acho isso muito chato
Mas ele eu vou esperar.
Ao furar o caixote
Com a foice amolada
No cangote do coitado
Foi dando as foiçadas
E a morte sempre dizia
Hoje eu levo Capanguinha
Nem que vem a madrugada.
De tanto furar o caixote
Capanguinha viu a morte
Ela não esperou foi embora
Dizendo que levou um trote
E no caixote Capanguinha
Era mais um que à noitinha
Morreu sem ver a sorte.
Não adianta fugir
Não vai existir lugar
Ninguém engana a morte
Ela vai onde ele está
Sua foice é boa de corte
Corta qualquer cangote
Do ar, da terra e do mar.
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