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Cronicas-->Simpatia para ganhar da Argentina -- 26/07/2000 - 18:45 (Eduardo Loureiro Jr.) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não, nada de pegar as cuecas de todos os jogadores da Argentina, costurar com elas uma bola de meia e pintar com gemada bem amarelinha. Não, esquece. Isso é coisa de baiano ou carioca. Eu que sou do Ceará, terra do jegue e do jumento, tenho que ter idéias mais inteligentes...

Na verdade, é uma adaptação de uma idéia antiga. Lá pelos 16 ou 17 anos, cheguei à conclusão de que nada que eu sonhasse ou desejasse eu conseguiria, mentalização zero. Bastava eu pensar em alguma coisa para que ela não acontecesse. Como não sou burro de ficar insistindo, passei a fazer o inverso, imaginar o que eu não queria. E a vida se tornou, é óbvio, muito mais fácil.

Tentei patentear, mas o burocrata do escritório de patentes disse que o Jorge Luis Borges já tinha desenvolvido a mesma idéia em um conto. Era um homem condenado à morte e morrendo de medo do fuzilamento. Consciente, como eu, de que bastava imaginar alguma coisa para que ela não acontecesse, pensou em todos os fuzilamentos possíveis e imagináveis para ver se escapava com vida de sua prisão.

Mas assim vou esquecendo da Argentina...

Minha simpatia é a seguinte: imaginar todos os motivos possíveis para a Argentina ganhar o jogo contra o Brasil, devem ser apenas três ou quatro. Se eu conseguir, dá Brasil, ou pelo menos um empate. Eu poderia até imaginar todos os motivos possíveis para haver um empate e assim evitar essa possibilidade, mas aí já seria abusar da simpatia.

A Argentina já começa ganhando do Brasil no grito, quer dizer, na escalação, quer dizer, no nome dos jogadores. Nome por nome, Bonano é mais bom (permitam-me) que Dida, Sensini é mais sensível que Evanilson, Roberto Ayala é mais robusto que Antonio Carlos, Samuel é mais profeta (perdoem-me) que Edmilson e Zanetti é mais zanete mesmo que Roberto Carlos; Simeone é mais si mesmo que Vampeta, Cristian González é mais cristão (Deus ganha jogo) que Emerson, Verón é mais verdadeiro que Alex e Ortega, como dizer, é mais ortega que Zé Roberto; Crespo tem mais cabelo que Rivaldo e Claudio López... tudo bem, Cláudio Lopes não tem nada melhor que Ronaldinho Gaúcho, mas é uma exceção.

O motivo para a gente não cultivar a mínima esperança, nem que seja no jardim de inverno da casa ou na varanda do apartamento, muito menos enroladinha em algodão dentro de um copo d água, é a campanha da seleção argentina: 5 jogos, 5 vitórias. Estão jogando tão bem futebol quanto dançam tango. Se houver olé no Morumbi, vai ser da Argentina que, além do mais, teve colonização espanhola e sabe mais de olé do que nossa ascendência portuguesa. Houvesse algum lance bacalhau no futebol e estávamos feitos, mas não há. Perdemos essa também.

O terceiro motivo, talvez o mais categórico de todos, é que todos os jogadores do Brasil estão achando que vão ganhar o jogo. Nas entrevistas, revelam que já está tudo pronto: a comemoração, a mensagem por baixo da camisa, o olhar raivoso para a càmera... Ou seja, estão imaginando, e esgotando, e descartando, e agourando, todas as possibilidades de vitória. Os argentinos, por outro lado, estão esperando uma derrota, no máximo um empate e, de tanto pensar em perder, não vai lhes restar outra opção senão ganhar.

Eu falei que eram três ou quatro motivos. Só me lembrei desses três. Se houver mais um, que não consegui imaginar, será justamente esse que dará a vitória à Argentina. Mas não fiquem torcendo para que sejam só três, senão não acontece e serão quatro. Fiquem imaginando que são quatro e, como não acontece mesmo, no fim das contas serão só três. Já pegaram a lógica, não é?

O mais é saber se o tal condenado de Jorge Luis Borges, prestes a ser fuzilado, conseguiu escapar. Pois o Brasil está na mesma situação. Mas o final do conto de Borges eu não digo. Em 2002, com o Brasil fora da Copa do Mundo, você vai ter um tempinho livre, e vai poder apreciar a genialidade desse grande escritor que, por acaso, é argentino.

Eduardo Loureiro Jr.
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