Não vou mentir dizendo que conheço o Madredeus há muitos anos. Por nome sim, eu conheço, mas suas músicas só foram ouvidas por mim nesta semana. Sim, eu sei, é uma vergonha, mas pelo menos desse pecado eu já me redimi. Finalmente ouvi esta banda portuguesa que foi citada por Tom York, do Radiohead, como uma das mais importantes e influentes no trabalho dele.
O Madredeus surgiu em 1986, graças à união de Rodrigo Leão e Pedro Ayres Magalhães, vindos respectivamente do Sétima Legião e do Heróis do Mar, bandas de destaque no pop rock português, que se colocaram a buscar uma nova sonoridade que conseguisse juntar o tradicional com o contemporâneo na música portuguesa. Procuraram então uma voz feminina que representasse exatamente o que estavam propondo e conheceram Teresa Salgueiro, com apenas 17 anos, em um café de Lisboa, onde, a então menina cantava algumas canções a capela para um grupo de amigos. Sou obrigado a abrir um parêntese, creio que se tivessem escolhido qualquer outra cantora, o futuro belíssimo do Madredeus não tivesse passado de apenas mais um projeto que não deu certo, fecho este parêntese. Juntaram-se a eles o violoncelista Francisco Ribeiro e o acordeonista Gabriel Gomes, sendo que esta formação lançou o primeiro álbum em 87, Os Dias da Madredeus, e que foi sucesso quase imediato em Portugal, extrapolando para outros paíises europeus e chegando ao Brasil.
Hoje a banda já esta com 17 anos e com nove álbuns próprios, além da participação em trabalhos de outros artistas portugueses e trilhas de filmes. Da formação original saíram Rodrigo Leão, Francisco Ribeiro e Gabriel Gomes e entraram, em 97, o baixo acústico de Fernando Judice, os sintetizadores de Carlos Maria Trindade.
Bom, passada este pequena e incompleta história do grupo o que posso falar? A voz de Teresa Salgueiro é sem dúvida nenhuma maravilhosa, e por mais estranho que pareça é inteligível. Digo isso porque já tentei ver programas da tv portuguesa e muitas vezes parece que estão falando outra língua que não o português. Os arranjos e as letras das músicas parecem feitos sob medida para a voz de Teresa. É realmente um trabalho inovador e diferente do que estamos acostumados a ouvir, tanto que o Madredeus faz sucesso não somente entre os amantes da música portuguesa e pessoal mais velho que estava acostumado a ouvir os tradicionais fados. Faz sucesso também entre o público mais jovem, que ouve mais rock.
Mas do que falam as letras? Sobre amor, viagem, saudade, temas muito queridos pela música portuguesa, como as belas canções Vozes no Mar, A Lira, Ajuda, mas também mostram bons trabalhos instrumentais, como em O Brasil. Além de ter uma música conhecida no Brasil inteiro graças à Globo, que colocou Haja o que Houver na abertura da mini-série Os Maias.
E onde encaixar o Madredeus? Se depender exclusivamente dos lojistas acharemos o disco junto à seção New Age ou World Music. Nada mais errado. Apesar de ter alguns elementos que aparecem no trabalho de outros artistas ditos new age, como o fato de se basearem na música folclórica, diga-se de passagem que isto não é depreciativo, são apenas elementos que elevam o trabalho do Madredeus a outro patamar, o dos grandes artistas portugueses.
A banda tocou neste final de semana no Teatro Alfa em São Paulo, sendo esta a quarta vinda do grupo ao Brasil. A primeira foi em 94, onde tocaram para mais de 30 mil pessoas em uma apresentação ao ar livre. Depois voltaram em 99 e 2000 para apresentações em São Paulo, Rio, Brasília e Belém do Pará.
Conheçam:
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