Venha ate aqui, rápido, pois estou chorando. Choro a alegria da liberdade. Sou tão solta, não devo nada e percebo que estou desencadeando uma vida só. E eis que isso é tudo e já me basta.
Escrevo como quem tropeça. Vou e volto. Olho para meus pés que me seguem até o novo tropeço. Gaguejo. É “gagueira braba”. Tropeços desencadeados de uma vida só.
Livre, a liberdade estonteante. Mesmo entre delírios daquelas cordas vocais que choram aqui no meu ouvido, tenho ganas de me libertar.
Venha até aqui, venha ver a pessoa solta, livre, que me tornei. Sonhei comigo e eu não era de ninguém. Plantou-se um alivio na casa. Fiquei olhando o teto e imaginei historias para os “bichos da sombra”. Quando vejo coisas, costuma durar dias, noites, meses. Formei famílias em paredes. Hoje choro por não ter a obrigação de contar a ninguém nenhuma historia.
Oh, coração! Esse que é só meu agora. Bate pela intenção de ser livre, pela certeza de ser só. Cada coração vazio da noite liberta em mim uma corrente de êxtase. Olho para eles e não te encontro. E sabe por que? Pois você pulou de dentro de mim.
Venha até aqui. Sente-se ao meu lado e te contarei o sabor das correntes desatadas. Mas ainda te digo: no prédio em frente, uma enorme cabeça se arma. Ela me vigia, quer roubar minha liberdade. Logo eu que agora não sou de ninguém.
Venha, querido, rápido. Pois estou sorrindo... pois estou cantando...
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