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Cronicas-->Navegar é impreciso -- 09/01/2003 - 15:33 (Sandra Regina da Silva Porto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Às vezes o navegar confunde. O navegador não sabe navegar com a visão do artista. O navegador é um navegador. Parecido com um cientista, que precisa ter em suas mãos e em seu olhar as ferramentas necessárias para que possa chegar ao seu rumo.

O navegador é, antes de tudo, um sobrevivente. O navegador é antes de tudo, um inconformado. Não aceita a sabedoria da natureza e, por isso, quer domá-la. Não se rende à beleza dos mares e, por isso, o perturba. Não se adequa a sua condição de homem e, por isso, desafia os deuses.

Navegadores são necessários.

O prazer do navegador não é pacífico. Somente a guerra o induz a navegar e a sangrar os mares desconhecidos. Não pela descoberta, mas pelo conquistar. Um conquistar de homens, não de deuses. Um conquistar que satisfaça a sua falta essencial, a sua separação cega do paraíso que supõe ter perdido.

O navegador não entende que todas as rotas já foram traçadas. "Eu conquistei", antes deveria ser "Fui conquistado". "Eu perdi", antes deveria ser "Não sei onde estou". "Eu descobri", antes deveria ser "Me revelei".

Se navegadores fossem artistas, chegariam mais rápido. Pois navegar e viver dá no mesmo. Todos estamos separados e todos somos inteiros. Não há que conquistar para abraçar a Deus. Não há que descobrir para sentir a respiração do mundo. Não há que se perder para se achar. Não há que se separar para ser todo.

O desafio da inteireza é navegar por mares conhecidos e esquecidos. O desafio da inteireza é aceitar que somos diferentes e todos similares. O desafio da inteireza é a síntese, e não a análise. O desafio da inteireza é amar, e não ao mar. Amar a terra, o tempo, os homens e os deuses. O sofrimento e a alegria, o orgulho e a simplicidade, a fé e a descrença, a vaidade e a humildade de todos os navegadores. As faces da mesma moeda.

Os navegadores deveriam saber que navegar é preciso. E que "viver é impreciso".

Maravilhosa imprecisão que deslumbra os olhos e o coração. Que surpreende a alma com nuances de arco-íris, cada vez mais inesperados e acontecentes. Que nos leva a encarar a Deus com o coração de criança e a alma em festa. Que nos faz querer dançar como índios a dança da chuva e a rabiscar no chão o sol da terra. Que nos faz jogar ao mar barquinhos de papel com pedidos dentro, tendo a certeza de que eles serão atendidos. Que nos tira dos marinheiros sós para os marinheiros juntos, reivindicando a legalidade para o desejo que, com certeza, será a mais correta bússola para o caminho do Ser, nos fazendo repetir, como Tagore: "A minha busca não é a renúncia. Eu quero abraçar o Senhor com mil braços de prazer".

Niterói, 04/05/2000.



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