Estive avaliando
A história do caixão
Do cara que tava dentro
Naquela ocasião
Acho que o danado
Estava ali deitado
Por ter medo de trovão.
Para o morto do Jequi
A encomenda seguia
O moço apavorado
Ali dentro também ia
O medroso nem quis saber
Só queria se esconder
Do trovão que aturdia.
A chuva caia fina
Causando muito frio
Este não foi o motivo
Pelo qual ele dormiu.
O medo era de danar
Que o fez desmaiar
Tão rápido que nem sentiu.
Ali dentro roncava
Feito um porco irado
Tendo um pesadelo
Ficou muito apavorado
Começou a suar quente
No estreito ambiente
Que estava apertado.
O medroso já estava
Quase vindo à tona
Foi quando Capanguinha
Ao pegar a carona
Para não ficar molhado
Estava embrulhado
Em um pedaço de lona.
Deitado lá no caixão
Dali mesmo espiava
O vulto que viu subir
No mesmo carro que tava
No momento lhe deu sede
Tremia igual vara verde
Que seu corpo arrepiava.
Na escuridão da noite
Não dava pra enxergar
O rosto da pessoa
Que estava a viajar
Naquela carroceria
Do caminhão que seguia
Para o caixão entregar
A chuva tinha parado
Passou também o trovão
O cara desconfiado
Tava dentro do caixão
Numa grande agonia
Sem saber se o que via
Era gente ou ilusão.
Resolveu então sair
Não agüentando o calor
O homem suava tanto
Mas era só de pavor
O caixão quis destampar
Para poder refrescar
Naquela hora de horror.
O resto eu nem lhe conto
O circo ficou armado
Pois aquele cara deixou
O caixão todo borrado
E o morto do Jequi
Foi obrigado a vestir
O paletó estragado.
Neste pequeno cordel
Eu só não vou comentar
Quem era o carona
Que o caixão foi borrar
Não fique desconfiado
Só fiz este versado
Para contigo brincar.
Para largar o Capanguinha
Outra história vou contar
Mas também só quero ver
A que você vai bolar
Cê conta a de Dominguin
Eu conto a de Benicim
Veremos no que vai dar.