Um ladrão tinha acabado de roubar uma carteira e pôr-se em disparada pela rua deserta. A vítima, um senhor já de certa idade, não suportou mais do que 50 metros de perseguição, após perceber, levando uma forte e covarde pancada na cabeça, que a arma do gatuno era de plástico.
Antes de dobrar mais uma esquina, o primeiro reparou em um carro de polícia, e sem pensar duas vezes, meteu-se (magro como era) fresta de bueiro adentro. Nem incomodou-se por pisotear os ratos e baratas, agitado e distraído como estava. Apenas observava, atento, o lado de fora.
A viatura foi chegando, e parou exatamente no lado oposto da calçada onde ele estava. O temor escorreu por sua face. Teriam visto tudo? Ao que parece, não. Os dois policiais negociavam com um par de prostitutas. Dali o ladrão pôde ver muito bem. Não demorou muito, as duas entraram no carro, uma na frente e a outra na parte de trás junto com um dos guardas.
Começaram então o serviço, assim sem qualquer precaução ou discrição. Era impressionante o modo como aqueles dois pares impregnavam-se um do outro. Conhecia aquelas duas: imorais, drogadas, assassinas, criminosas, abortantes. Conhecia aqueles dois: corruptos, injustos, incapazes.
Os ratos e baratas, sujos e repugnantes, subiam por suas pernas. Os vermes, viscosos, já invadiam seus sapatos. Sacudia-se, mas não muito incomodado com aquilo. Outro fato lhe tomava a atenção: era impressionante como aqueles dois pares jogavam um no outro suas imundices. Mas o ladrão sorriu irônico, pensando que não iam se contaminar, pois se mereciam, e de algum modo pertenciam um ao outro.
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