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Contos-->"X" -- 31/05/2003 - 17:41 (Gabriel Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

"X"


Era um dia comum. “X” acordava se perguntando por que diabos ele abriu o olho e acordou. Desse jeito era obrigado a viver. Olhava sua mesma cara no espelho. A mesma de ontem e anteontem e tantos outro ontens que ele nem se lembra mais. Fazer café, tomar. Se a solidão soubesse ao menos preparar algo para “ X” comer. Mas não, a solidão era uma companheira nada solidária. Ah, e o mais importante: tomar sua felicidade sintetizada em laboratório, o querido Prozac. Quando “X” tomava sua pílula a única coisa que imaginava era que Deus fora inventado pela ciência. Se não foi deveria ter sido.
Ir ao trabalho imaginando que aquilo fazia dele uma pessoa “do mundo”. O “fazer parte”. Como isto era importante para ele e para todas as pessoa naquele ônibus. Mesmo que elas não soubessem disto.E o mundo passando pela janela do ônibus, tantas cores e tanta gente. Quanta vida.
Chega ao trabalho. As mesmas coisas a fazer e as mesmas pessoas. A única coisa que mudou em seus dez anos de trabalho naquele escritório foi a cor da parede. Até as paredes mudam. Elas devem ser mais felizes que nós - pensava. Seu computador lhe diz um “oi”, quando o bendito Windows inicia, gravado com a própria voz dele.
Dona Márcia lhe pede mais uma vez um relatório. E ele está pronto nos tradicionais quinze minutos seguintes. O café de Dona Márcia é o mesmo há dez anos. Tomado no mesmo horário. Engraçado como a gente se sente bem repetindo as mesmas coisas, sempre - pensava. Deve ser uma forma de se proteger.
Sai a manhã, passa a tarde. Era de se esperar. Deve ser assim desde o início dos tempos. O almoço foi um pouco diferente hoje. Deve ter sido a carne. Estava com um gosto de estragada. Ou foi o feijão?. Ele ficou feliz por ter sentido aquele gosto estranho no almoço. Ao menos era alguns minutos de conversa a mais se houvesse alguém esperando por ele. Diria como era melhor o serviço na época quando entrou na firma e o almoço de hoje. Estenderia a conversa até chegar na falta de alimento para suprir a superpopulação mundial e a soja transgênica. Mas não havia ninguém. Hora de ir para casa.
O ônibus atrasou um pouco hoje. Mas não tem problema. Ele gostava de olhar a noite pela janela do ônibus. Parecia, ao mesmo tempo, bela e inofensiva Putas ganhando a vida e rapazes bem vestidos achando que bebiam a vida da puta. Novas cores, diferentes das diurnas, som e movimento. Gargalhadas que sumiam com a distancia, e a música, essa substância que preenchia todo o vazio humano das pessoas que vivem a noite. E a madrugada, cúmplice de seu silêncio, parecia eterna quase todo dia, para ele.
Mas hoje não! Ainda restava uma porçãozinha do dia e ele ainda havia de fazer algo novo. Ele tinha de ser notado. Não era possível passar a vida toda em branco, sem um porquê. “X” não era igual a qualquer um. Ele tinha algo mais, mas não sabia o quê. Talvez o que realmente lhe faltasse fosse um ato heróico, de bravura, coragem. Assim como Dom quixote e seus moinhos imaginários, Hércules e seus trabalhos. Sim! Aí estava a solução. Pegou rápido seu velho LP dos Smiths, bateu a poeira e colocou na sua vitrola. Quando a agulha bateu no disco ele teve a mesma sensação de quando tinha quinze anos. Tudo parecia ter solução e a vida era um mundo de possibilidades. Enquanto ainda havia som na sala e seu conhaque já chegava na metade ele decidiu que faltava agora o grande final, como aqueles atletas que se preparam anos para darem o salto na piscina e receberem sua nota. A queda na água para eles é fundamental. Chega de sua vida parecer um refrão chato de uma música chata. Que todos os instrumentos da orquestra agora toquem mais alto, dêem o clímax e terminem no acorde mais belo que já tocaram. Hoje era um dia especial e já estava no fim. Enfim encontraria a felicidade plena.
Então, foi ao seu banheiro, pegou a gilete que estava bem guardada e se foi... juntar-se a não sei o quê. Enquanto a música tocava:
- “ ...there is a light that never goes out... ”
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