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Contos-->COMPANHEIRO DE VIAGEM -- 11/09/2000 - 23:32 (Marcelina M. Morschel) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cabelo esvoaçante, como o cachecol que usava, foi chegando à plataforma de embarque aos empurrões. Deu uma olhadela, verificando se nada havia esquecido: mala, sacola, frasqueira, casaco. Sua bagagem, resumida num montinho, equilibrada pelo pé direito, estava ali. Se aquela sacola virasse, seria um vexame. Laranjas e tangerinas iriam espalhar-se pelo saguão todo. Nem era bom pensar. Também, que idéia da sua tia exigir que trouxesse aquelas frutas. De repente, movimento de pés se arrastando, malas passando, gente que se despedia, fizeram seu pensamento parar. Olhou para o ônibus que chegava. Apressada, pegou seus pertences e entrou. Poltrona número trinta, bem lá no fundo. Sabia do sacolejar, mas não teve outra escolha. Resolvera viajar em cima da hora e só havia aquela vaga. Os demais passageiros foram chegando. Cada tipo estranho! Uma senhora gorda teve dificuldade ao entrar pelo vão das poltronas. Um outro, muito alto, abaixou a cabeça; caso contrário, bateria no porta-volumes. Os lugares já estavam quase todos tomados. Ao seu lado não sentou ninguém. Sorte sua. Poderia ficar mais à vontade e até estirar mais as pernas.

- Com licença.

Uma voz rouca e seca penetrou nos seus ouvidos. Encolheu-se na poltrona e seu companheiro de viagem sentou-se. Blusão verde musgo, calça marrom. Até que seu gosto não era dos piores. Encostou-se confortavelmente e fechou os olhos. Sinal de que não queria conversa. Sua mão direita repousava sobre a perna e a esquerda, enfiada debaixo do blusão. Também, com o frio que fazia, ninguém ousava ficar descoberto. Noivo não era, pois não usava aliança na mão direita. Seria casado? Só ficaria sabendo se ele tirasse a mão debaixo do blusão. Ficaria de olho. Ah, como ficaria! Era charmoso. Um pouco sisudo, mas o gelo derrete fácil. Ele continuava de olhos fechados. Ela, a olhar com o canto dos olhos. O globo ocular, girando a cada momento para a mesma direção, começava a doer. Passageiro taciturno mesmo! Afinal de contas, poderia dar uma colher de chá, um sorriso, algumas palavras. Mas, nada. A viagem, iniciada há tempo, já a deixara cansada e com sono. Reclinou a poltrona e fechou os olhos também. Devia conforma-se com o silêncio. Talvez na primeira parada, na hora do cafezinho, ele ao menos a cumprimentasse. E os quilômetros rodados foram muitos. De repente, o moço levanta-se. Ela abre os olhos. Ele apenas vai até o banheiro. Quem sabe na volta será mais sociável. Voltando, senta-se na poltrona, cerra os olhos. A mesma esquisitice: silêncio, com a mão esquerda debaixo do blusão. Muitas vezes ainda voltou ao banheiro. Deveria estar com algum problema. Certas pessoas sentem fobias quando viajam e o organismo reage de várias maneiras. Se ele falasse um pouco, poderia distrair-se e o problema amenizar-se-ia. Tão moço e tão esquisito. Deve ser neurose.

A uma certa altura o ônibus pára. Os passageiros, espantados, perguntam se aconteceu alguma coisa. Dois policiais entram armados e pedem silêncio. O moço se agita. A ordem é para descer um a um. As pessoas, obedientes, foram atendendo a voz dos policiais que chamavam pelo número da poltrona.

- Poltronas número vinte e nove e trinta.

O moço fica pálido. Levanta-se. Na porta, a revista.

- Braços erguidos!

Um barulho seco no chão. Ela olha e vê a mão branca, cheia de anéis de brilhantes, caída aos pés de seu companheiro de viagem. O policial põe as algemas no moço e com um papel pega a mão decepada.

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