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Artigos-->Que Deus nos Zampari -- 22/05/2002 - 14:14 (Marcelo Rodrigues de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Que Deus nos Zampari



Marcelo Lima



Com o fim da ditadura do Estado de Novo de Getulio Vargas, em 1945, Eurico Gaspar Dutra foi eleito democraticamente presidente do Brasil. Surgiu uma nova constituição que ao mesmo tempo, assegurava igualdade a todos perante a lei e proibia a liberdade de manifestação de pensamento em espetáculos e diversões públicas.

O pós-modernismo, também de 1945, nasceu confuso, já que suas principais vertentes tinham linhas de pensamentos diferentes. De um lado, a prosa sofria influência de autores da década de 30 como Jorge Amado e José Lins do Rego, e tinha como principais representantes à obra intimista de Clarice Lispector e o regionalismo de Guimarães Rosa. Do outro lado, na poesia, João Cabral de Melo Neto se destacava pela não vinculação a nenhum grupo, buscando a temática social, o realismo e a objetividade em seus trabalhos. Já os outros poetas aboliam toda e qualquer conquista da geração de 22 e buscavam inspiração nas obras do Parnasianismo e Simbolismo.

O Teatro Brasileiro de Comédia (TBC) nasceu nesse período. Mais exatamente em 1948, quando o empresário italiano Franco Zampari, no Brasil desde 1922, e que via o teatro amador paulista com bons olhos, propôs a diversas personalidades da alta sociedade de São Paulo, a criação de uma fundação sem fins lucrativos para abrigar esses grupos.

Até então, toda referência do teatro nacional estava no Rio de Janeiro. Em São Paulo havia o teatro Santana que tinha somente companhias profissionais, o Boa Vista, que foi demolido em 1948 e o prestigiado Municipal, que abrigava companhias estrangeiras e festas de formaturas.

O teatro amador, mesmo apresentando trabalhos de qualidade, não tinha espaço em uma cidade que crescia com o comércio e a indústria, e se perdia em seus movimentos culturais. Como lembra Otavio Frias Filho, diretor editorial do jornal Folha de São Paulo, "caudatário da cultura dos países centrais, cujos movimentos de idéias são absorvidos aqui com atraso e de modo artificial, apenas por força do prestígio e de modismos europeus, nosso panorama artístico é quase desértico". A geração de 22 pensava desta maneira e a de 45 também só que "substituído por um realismo crítico que, às vezes, beirava a amargura, quando não se esquivava pela ironia", escreveu.

No dia 11 de outubro de 1948, o TBC foi inaugurado com La voix humaine, de Cocteau e A mulher do próximo, de Abílio Pereira de Almeida, pelo Grupo de Teatro Experimental (GTE).

Em 1949, estréia Ingenuidade, de Van Druten, que ficou em cartaz durante cinco semanas e teve um público estimado em 7500 pessoas. Era uma marca para a época, já que nenhuma peça havia ficado mais do que três semanas em cartaz e com um público tão grande. Logo esse recorde foi batido por Arsênico e Alfazema, de Kesselring, que foi levado ao palco durante dois meses.

Zampari havia acertado. Estava trabalhando com atores e atrizes de grupos amadores e a qualidade dos mesmos e das obras apresentadas assegurava um ótimo público. O que também garantia isso era o preço reduzido dos ingressos.

Em 1950, o TBC profissionalizou-se montando um elenco de 12 atores, passando a alternar peças de reconhecimento artístico e comédias leves, que possuíam retorno comercial garantido.

Mas da mesma maneira que o TBC inovou e conquistou com O pagador de promessas, de Dias Gomes, que ganhou 16 prêmios em 1960 e sucessos de bilheteria como com Os ossos do Barão, em 1963, de Jorge Andrade, ele também arriscou e perdeu. Teve peças censuradas, como A semente, de Gianfrancesco Guarniere, e Um pedido de casamento, de Tchecov. E fracassos de público com Mortes sem sepultura, de Sartre, Uma mulher do outro mundo, de Noel Coward e E o nordeste soprou, de Edgard da Rocha Miranda.

A história do TBC é marcada pelo o que muitas pessoas chamavam de italianismo. Muitos dos profissionais que passaram na casa eram italianos, entre eles os encenadores Ruggero Jacobbi, Luciano Salce, Flamino Bollini, Alberto D Aversa e Gianni Ratto, o polonês Ziembinski e a belga Marice Vaneau. Os cenógrafos Aldo Calvo, Túlio Costa e Bassano Vaccarini.

Aldo Costa disse que trabalhar nos palcos do TBC era um desafio. "Do que posso me lembrar, a cenografia no Brasil anterior ao TBC era, sobretudo, ingênua. O TBC, entre outras coisas teve o mérito de mostrar um novo tipo de espetáculo, mais homogêneo e mais sofisticado, até então inédito no Brasil".

Mas se o TBC foi uma casa para os profissionais europeus, que fugiam de uma sociedade sem oportunidades e que se reconstruía da 2º guerra mundial, ele também foi o responsável pela profissionalização de muitos atores brasileiros como Cacilda Becker, Fernanda Montenegro, Tônia Carrero, Paulo Autran, Ítalo Rossi, Sérgio Cardoso, Jardel Filho. E o reconhecimento para muitos veio cedo. Em 1949 a Cia Cinematográfica Vera Cruz, durante quatro anos, assimilou grande parte do elenco e da equipe técnica do TBC.

Décio de Almeida Prado, um dos maiores críticos teatrais brasileiros, pertencia ao Grupo Universitário de Teatro, o GUT, e Madalena Nicol, aos Artistas Amadores. Todos fizeram escola no TBC. "Franco Zampari surgiu de repente, como do nada. Amava teatro tanto quanto nós. Tinha a experiência empresarial e até artesanal que nos faltava", escreveu em um artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo.

Hoje o TBC está renovado. Passou por uma reforma em sua estrutura que custou cerca de quatro milhões de reais, patrocinados por Marcos Tidemann, um dos donos da empresa de combustível Hudson e pelo músico Eduardo Gudin. A casa tenta atrair o público com uma programação que vai de música a espetáculos de diferentes formatos e tendências. O sonho de Zampari parece estar tomando novo fôlego, após 51 anos de altos e baixos.

E como lembrou Décio de Almeida Prado: "Alguém, se não me engano Benedito Corsi, inventou que de noite, antes de dormir, os jovens atores nacionais rezavam baixinho: Que Deus nos Zampari. E ele amparou...".







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