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Artigos-->CHARLATÃO -- 22/05/2002 - 15:11 (Fernando Antônio Barbosa Zocca) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O moço abatido pelo infarto que derrubou seu pai, trinta dias antes,numa semana, desorientou-se completamente. Fazendo uso excessivo do tabaco, que naquele tempo não tinha muita restrição ao seu consumo, por se desconhecer seus efeitos deletérios, conseguiu para si uma insônia exaurível.

O emagrecimento notório com as olheiras que se destacavam naquelas faces amarelecidas e encovadas, não fora notado pelos demais membros da família também sujeitos às mesmas causas estressantes.

Igual a um morto vivo, perambulava pelas ruas à noite, tendo na consciência as contas vencidas e nos bolsos furados o esfrangalho da inópia.

Seus colegas condoídos e cheios de boas intenções,tentando ajudá-lo, quiseram leva-lo a um local onde supostamente receberia tratamento reparador. Relutou, a princípio, em aceitar a sugestão. Mas com o passar do tempo e por não ter outra alternativa que não fosse aquela rendeu-se. Deixou-se então encaminhar ao sítio onde se praticavam as supostas sessões de cura.

Quando entrou percebeu que o lugar era muito velho e mal conservado. As tábuas antigas do assoalho estavam furadas e roídas pelos cupins. A má conservação era manifesta. As paredes tomadas pela poeira e manchas de mofo há meio século não viam pintura.

As janelas emperradas, carcomidas, e semi-abertas mal deixavam passar as poucas lufadas de ar fresco e saudável que vinham de fora.

As cadeiras daquela espécie de salão estavam podres e acolhiam os maltrapilhos, com rangidos, que se aventuravam a sentar-se nelas.

Na penumbra que se formava depois de iniciada a sessão, guinchos de ratos aterrorizados, vibravam o ar fétido e maligno.

Num canto lúgubre com os olhos encobertos pelos dedos da mão esquerda, garatujando nas folhas soltas que lhe apresentavam um assistente, o médium rosnava diagnósticos e murmurava prognósticos, prescrevendo a terapêutica para os problemas diversos e difusos, aos que se submetiam à sua apreciação, no encontro.

Nem um sussurro ouvia-se na platéia. Apesar das poucas almas presentes naquela noite no auditório, o terror inspirado pelas coisas que as envolviam calavam-nas profundamente, levando as atenções a concentrar-se naquele som soturno que vinha do canto sinistro.

A obnubilação da consciência provocada pela melancolia, que o impregnava, não o impediu de cogitar que aquela pessoa obscura desempenhava os papéis geralmente conferidos aos médicos. E que estes, após longos anos de estudo e aprimoramento obtinham o direito à diagnose e a conseqüente prescrição terapêutica.

Mas como estava numa posição passiva, sob o domínio da situação completamente adversa, afastou qualquer pensamento combativo. Submeteria-se.

Sob o comando, então a partir daquela noite, das forças obscuras míticas e mistificadoras, seu destino seria desviado para as mais sombrias regiões onde se praticavam a maldade e a insânia era a moeda corrente.

O moço que era saudável a princípio, bonito e bem apessoado, em sessenta dias transformou-se num porcino capado.

Os amigos, quando viram a transmutação que se operara, constrangeram-se e não podendo explicar o fenômeno, aceitavam as lições dos obscurantistas: todos deveriam afastar-se dele por ter problemas de ordem espiritual e que a malignidade imbuía aquele corpo.

Condenado ao ostracismo o moço pobre, vítima da persecução encarniçada,fomentada pela seita terrível, exorou a Deus que lhe desse forças para continuar vivo; mesmo que também importasse na detonação completa daquela filosofia barata.

E era, realmente isso, o que deveria ser feito?





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