CADA MACACO NO SEU GALHO

João Ferreira

6 de maio de 2022

Temos nos dedicado bastante a anotar várias considerações sobre  alguns dos mais notórios provérbios em uso nas comunidades internacionais e no país. Alguns desses provérbios destacam a sabedoria acumulada em várias gerações de convivência humana. Outros fazem de conselheiros sobre o prudencial comportamento individual nas suas arremetidas contra as tradições, Outros, finalmente,  são apenas o visível resultado do que pensam comunidades nacionais.

Entre os muitos provérbios usados no Brasil, está esse que nos deu o título acima: "Cada macaco no seu galho". O provérbio tem como figura  simbólica central a figura de uma  das espécies mais conhecidas da fauna  das florestas brasileiras: o macaco. A fórmula do provérbio nos oferece algumas reflexões vivas que conhemos no nosso dia a dia de  vivência política no país e torna-se, por isso,  um símbolo vivo do que representa a democracia numa comunidade democraticamente avançadal, se partirmos de uma base constitucional de respeito aos poderes de cada esfera de poder.

I

Em primeiro lugar, acreditamos que a escolha do símio para inspirar a fórmula de um provérbio tão sapiencial se torna clara de várias formas. De um lado, pode oferecer-nos a reflexão de que no seio da pluralidade de indivíduos existentes numa determinada comunidade, humana ou animal, há que colocar ordem para que haja bom entendimento entre os membros da  comunidade  e para que esta tenha sucesso em suas finalidades da espécie e  projetos racionais. Pensar isto e defender a tese da ordem, é pensar genuinamente de forma brasileira. É seguir um programa proposto na bandeira nacional que propõe aos brasileiros ordem e progresso. Coincidentemente, é oportuno acrescentar que a ordem é um princípío democrático defendido por todos  os países com educação avançada  e um dos selos indeléveis da civilização contemporânea enquanto garantia de crescimento e de sucesso. 

II

O respeito à ordem numa comunidade tem como resultado a integração: um por todos e todos por um. A ordem inspira e leva  cada um a se entregar ao seu trabalho, à sua função, à sua responsabilidade. Esse trabalho, essa função e  essa responsabiliadade retornarão à comunidade em termos de  reforço,  manutenção, reconstrução e paz social da comunidade. O provérbio fala de macacos: cada macaco no seu galho. Ninguém é macaco nas comunidades humanas. Sabemos disso. É importante assinalar que se trata apenas de um símbolo. Símbolo cheio de ensinamento e sabedoria. Os símbolos dão-nos grandes oportunidades de reflexão e de aprendizado, aos  indivíduos e às comunidades.

III

Como país, o Brasil é uma comunidade grande. Comunidade com muitas etnias, com muitos indivíduos. Com variedade de pensamento e de adesão no campo da política, da religião, da filosofia e da tecnologia. São cerca de 220 milhões de habitantes. É um país estruturalmente organizado. Tem uma constituição que rege os direitos e os deveres de cada cidadão e da comunidade nacional como um todo. Em seus fins, suas ações no trabalho e na produção são representadas pelas  micro e pequenas empresas, pelas  empresas de porte médio, pelas grandes empresas, e por todos os institutos que se propõem trabalhar em favor do país e dos cidadãos em livre iniciativa. Na educação, as escolas,primárias, as escolas de segundo grau e as escolas de ensino superior levam a bandeira da formação buscando descobrir  habilidades, e abrir caminhos para o pensamento político, filosófico e tecnológicos avançado. O Brasil é um país com grande quantidade de cérebros formados, em atividade,criando, inventando, pensando, atuando. Cidadãos com o espírito sério de cidadania querendo ser membros atuantes num  país onde se pense livremente e se participe de organizações e onde se possa construir um Brasil com personalidade própria, conhecido e respeitado entre seus pares e de bem com a comunidade internacional.

IV

"Cada macaco no seu galho" significa, simbolicamente, que cada cidadão tem seu lugar garantido e sua função na sociedade. E que cada instituição brasileira tem sua individualidade e seus fins que devem ser respeitados.

Neste sentido, é oportuno lembrar que no conjunto funcional do Brasil, há três poderes autônomos e independentes, que se devem respeitar entre si,  e trabalhar autonomamente em sua esfera específica. Esses poderes são o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Repartidos desde a Presidência da República até aos Estados, onde há Governadores, Câmaras estaduais e tribunais,  e até aos Municípios onde há os Prefeitos, as Câmaras de vereadores e a respectiva representação judicial.  Grandes poderes, apenas estes três. Todos e cada um trabalhando pelo Brasil. Sem invasão de esferas. De acordo com a constituição e as leis, tentando construir uma sociedade brasileira democrática, respeitadora,  harmônica, educada e sem violência com o objetivo claro de respeiitar direitos e deveres respeitantes à vida pública de cada cidadão.

V

Para além dos três poderes, há outras instituições, como as Forças Armadas e outras. São  instituições  apenas complementares de apoio democrático às outras instituições e aos direitos do cidadão brasileiro. Ajudam, mas não devem se imiscuir.  Devem preservar-se e atuar apenas nas circunstâncias previstas na lei. Ajudam, quando solicitadas, sem atrapalhar.

Por sua vez, o próprio  Presidente da República,  maior autoridade do país, tem também suas funções delineadas na Constituição.  É apenas Presidente da República, para trabalhar em harmonia com os demais poderes. Não pode se intrometer, nem desarmonizar, nem guerrear os outros poderes. Seu poder é o que está atribuído à sua função. Ele e o os demais poderes têm que obedecer às leis da democracia, ao que a Constituição demarcou para exercício de seu poder.  Nenhum dos poderes pode invadir  a área de poder do outro. O recado não é apenas para o Presidente da República, mas para todos os  poderes. É para o STF, para o TSE, para o Presidente da Câmara dos Deputados, para o Presidente do Senado. Nenhum deles pode invadir o espaço dos demais poderes. Cada um na sua área. Cada um no seu espaço. Cada um nas suas funções. "Cada um no seu galho". Harmoniosamente. Democraticamente. Tudo isso, para bem do país, para tranquilidade de todos os cidadãos brasileiros.

João Ferreira

Brasília, 06 de maio de 2022