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Artigos-->Ter, plantar e escrever -- 02/11/2000 - 20:30 (Gabriel Perissé) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TER, PLANTAR E ESCREVER



Não sei quem primeiro pronunciou essas profundíssimas palavras, numa frase que volta e meia ouço alguém repetir: “Na vida temos de ter um filho, plantar uma árvore e escrever um livro”.



Tive uma filha recentemente, depois de ter escrito um livro (que por acaso se chama Ler, Pensar e Escrever), mas ainda não plantei minha árvore.

Estou em dívida com a frase. E com a ecologia.



Não me considero um ser humano completo.



Contudo, é uma injustiça equiparar assim três “coisas” tão diversas como um filho, um livro e uma árvore.



Ter um filho é muito mais que plantar uma árvore. É plantar a própria humanidade. É ver de novo Adão e Eva nus, sem saberem que nus estão, e vê-los cometer pequenos pecados originais, puxando a toalha da mesa, colocando a mão na tomada, jogando comida no chão, fazendo manha antes de dormir.



Ter um filho é muito mais que publicar um livro. É abrir uma nova página na história. É criar um novo personagem no drama que se desenrola no planeta terra. É confiar outra vez na vida. É convidar para contracenar conosco uma pessoa livre, cujas atitudes são imprevisíveis, para o bem e para o mal.



Mas escrever um livro é como ter um filho, também. De certa forma, é conceber uma nova realidade, autônoma, única, que vai perpetuar meu ser, esticar meus braços, alargar meu coração, encompridar minhas pernas, fazer que eu abrace no tempo futuro leitores que jamais verei.



Escrever um livro é como plantar uma árvore, também. É reflorestar o mundo. É roubar o papel das árvores para devolver aos homens um oxigênio ainda mais puro, se puro for. O oxigênio das boas idéias, das críticas sensíveis, das histórias inesquecíveis, dos poemas apaixonados.



Ainda não plantei uma árvore, mas lembro agora que, como tantos garotos, aprendi na escola que se podia fazer germinar um caroço de feijão no algodão molhado. Era fascinante ver aquele feijão, roubado da panela em que iria ser cozinhado, virar plantinha desaforada, com suas raízes e folhas, com sua “personalidade”.



Não, não vou equiparar três gestos tão diferentes: ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro. Deve haver entre eles uma hierarquia.



Mas uma coisa seja dita: há também em cada um deles uma dignidade própria, de modo que ninguém se sinta estéril por não cumprir um dos itens da famosa frase.





Gabriel Perissé

perisse@uol.com.br

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