Quando a esmola é grande, o santo desconfia
João Ferreira
I
Trata-se de um provérbio ou ditado popular. Ditado que, em sua essência, representa a sabedoria popular, que nasce da análise e acompanhamento do comportamento social das pessoas, de seus gestos e palavras.
II
O adágio é um ensinamento e um aviso. O normal é as pessoas doarem esmolas em pequenas quantias quando querem homenagear seus santos, suas igrejas ou seus pobres. Exceção feita, é claro, naquelas igrejas pertencentes a confissões religiosas que adotam o dízimo ou décimo como cobrança em suas contribuições religiosas. As contribuições ou esmolas para a festa do santo padroeiro ou para o culto em geral são módicas seja porque a maior parte da população é pobre e de finanças limitadas seja porque as pessoas entendem que a contribuição deve ser de todos, pertencendo, portanto, a cada um, uma pequena parcela. Sendo assim, quando acontece surgir uma esmola de grande ou de muito valor, o povão se espanta e desconfia da doação pela raridade do gesto. E aí, o povo comenta que até o próprio santo que seria o homenageado, ou o pobre beneficiado com a esmola de maior valor, vai desconfiar dessa generosidade.
III
Nestes casos, tanto o beneficiado quanto o povão são levados a desconfiar que ali há segundas intenções ou interesses ocultos que acompanham a aparente generosidade do doador.
A sabedoria popular não costuma se enganar. Neste adágio, mais uma vez se verifica a sagaz penetração da inteligência popular, que na sequência dos casos, vai construindo sua sabedoria carregada de moral e de razão.
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