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Contos-->Madrugada -- 10/06/2003 - 21:43 (Gabriel Rocha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

João dormia na laje fria do túmulo de qualquer pessoa. De um qualquer que parecesse ter tido mais sorte do que ele na vida, e tinha ao menos alguém que chorasse por ele em algum dia do ano. A madrugada no cemitério era mais calma e fria. Ninguém lhe incomodava nem prestava atenção - ao menos ele não via - ao seu jeito troncho de se vestir e andar. Seu capote surrado e cheio de furos fazia uma bonita sombra no chão. A luz que atravessava os buracos os faziam parecer olhos no concreto. Na verdade ele gostava mais da sombra do que do próprio capote. Podia ler Álvares de Azevedo e também Drummond. Mas ele não lia nada, a escuridão não deixava. Achava aquilo bonito. Ouviu falar que alguém o já havia feito, então apenas olhava os livros até pegar no sono, assim mesmo, apenas com a roupa do corpo e envolto em neblina. E vinha então o sonho... todas as suas graphic novel em sua cabeça naquele momento. Furacões de idéias, alucinações controladas, cores e muita música, todas ao mesmo tempo. Ele podia voar, no espaço e no tempo, vê-lo nascer, andar, primeiro dia da escola, seu falecido pai. E então voltava mais ainda: via seu bisavô quando foi para a guerra, e todo o barulho ensurdercedor da Primeira Guerra, o cheiro de sangue... voltava mais e mais: Egito antigo, sumérios, neanderthais, início da vida, ia até onde ele não podia alcançar com seu pensamento. Voltava voando acima das nebulosas e galáxias desconhecidas, e era hora de ver o futuro. Mas o futuro... ele apenas podia imaginar, e imaginava como bem queria: uma vida calma e tranqüila ao lado de uma pessoa (que ele ainda não sabia onde estava e nem quem seria).
João imaginava todos os pensamentos mortos e enterrados naquele cemitério. Quantas idéias não nascidas. Quantas palavras que não chegaram a serem ditas. Quanta vida não vivida. Quantas desculpas que não chegaram a serem dadas. Não há vida que se complete – pensava ele. Ela não se completa na morte.
Deixava o olho entreaberto e olhava mais atentamente para cada túmulo com um precioso cuidado. O mármore frio parecia encerrar um universo. Dentro de cada caixão um universo extinto. E isto lhe dava mais sono...
Acordava às 5:00 quando o vigia chegava e ele saía antes que precisasse mandar. Recolhia seu poemas e livretes. Não ligava para sua roupa suja de terra muitas vezes. Apenas assobiava e voltava para casa com uma “leve” sensação de, mais uma vez, ter vivido várias vidas num só instante.
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