Eu estava morando em Porto Velho. Era professor da Faculdade de Ciências Humanas e Letras de Rondônia – Faro, quando surgiram as conversas de federalizar uma instituição particular de ensino superior no sul do Brasil em 2004. A instituição vinha sofrendo com o processo de inadimplência em diversos municípios e sugeriram que fosse federalizada. Como o processo não é legal, uma vez que feria os princípios constitucionais, o governo encaminhou a criação da Universidade Federal do Pampa, atendendo ao anseio popular e à necessidade de estimular o desenvolvimento socioeconômico regional.  Eu continuava lendo as notícias, com vontade de me deslocar 4 mil km rodoviários para fazer um concurso como técnico, mas não podia arriscar tanto. Deixei de lado. Imaginava morar em São Gabriel se fosse fazer o concurso. Segui a vida na Faro até 2009, quando resolvi mudar para Curitiba, mais perto dos filhos. Assim foi até o ano de 2012, quando surgiram concursos na área de Comunicação Social. Foram cinco concursos. Num deles, passei em segundo lugar na Universidade Federal da Fronteira Sul, UFFS, campus Erechim. Produtor Cultural. Uma vaga. Fiquei vigiando a internet, torcendo para que a primeira colocada não tomasse posse. Não houve jeito. Ela ainda está lá. Uma profissional muito competente. Restou buscar outros concursos. Foi então que decidi tentar um como professor temporário na Unipampa campus São Borja. Confesso que a decisão foi difícil. Eu cursava Filosofia na Universidade Federal do Paraná, segunda graduação em andamento. A cidade de Curitiba tem uma reserva de profissionais desempregados na área de Comunicação impressionante. Tem gente com mestrado e doutorado explodindo pelas janelas. Após inúmeras tentativas de inserção naquele mercado optei pelo concurso. 14 horas de viagem, desconhecimento do local, inexperiência em concursos públicos. Na véspera o Grêmio foi derrotado pelo Palmeiras numa semifinal da Copa do Brasil. Não conseguia concentração adequada para o estudo nem gostei do power point que elaborei para a aula. Detestei minha aula, estava de mal comigo. A nota foi satisfatória para a admissão. Estava lançado o desafio de viver em cidade pequena, 38 anos após ter deixado o Rio Grande do Sul(São Gabriel 1974). Foi fácil chegar e me adaptar. Cidade menor com trânsito fácil e fluxo de pessoas e informações mais rápido. Em alguns meses já estava bem entrosado e lecionando nos cursos de Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Ciência Política. Minha formação é Publicidade e Propaganda(UFPR), com especialização na UFRO, mas graças aos desafios propostos pelos coordenadores da Faro e da Uniron fui professor de administração de empresas e comunicação, passando por muitas disciplinas diferentes. Sou louco por história e política (leio muito – talvez ainda faça a graduação em história). Tive o prazer de trabalhar como professor de História e Geografia (emergencial) em colégios de Rondônia. Na Faro tive a experiência de trabalhar com Sociologia da Comunicação e Antropologia Cultural. Desafios maravilhosos, aprendizado ampliado. Foi assim que trabalhei em Ciência Política com as experiências anteriores e com muita ênfase. O projeto Unipampa, que acompanhei desde o início, teria entretanto prazo limitado como professor. Foi encerrado em 2014, limite de contrato. Durante o processo de trabalho como professor surgiu a hipótese de ser contratado como produtor cultural caso abrisse vaga. A produtora cultural Simone Prior Prietsch tentava uma vaga em Jaguarão. O início das tramitações começou em dezembro de 2012.  Simone foi removida para Jaguarão no início de 2014. Em fevereiro de 2014 a dúvida era sobre a validade do concurso na UFFS. Foi validado para dois anos, pois havia dezenas de cargos de técnicos.  Em março de 2014 venceu o contrato de professor. Em 28 de março publicaram a portaria esperada para a contratação na Unipampa. Apelidei o processo de Operação Papai Noel em 2012, pois começou numa conversa informal no mês de dezembro.  Foi bem complicado,  deslocamentos de papeis e trâmites de conselhos, reitores, estas coisas. O empenho do professor Ronaldo Colvero, diretor do campus, da coordenadora acadêmica Elisângela Maia e do coordenador administrativo Luís André para o aproveitamento de vaga com o resultado do concurso da UFFS foi determinante. São seis anos vivendo em São Borja, curtindo o projeto Unipampa, com rol de amizades extenso, testemunhando a transformação dos que sabem aproveitar a chance de estudar numa instituição pública de qualidade. A emoção de participar de cursos que foram reconhecidos como Ciência Política e Relações Públicas, Ciências Humanas e agora a chegada do curso de Direito (empenho da coletividade do campus). Conheci muitas pessoas, em especial a professora Angela Quintanilha Gomes. Que bom ter ficado em segundo lugar naquele concurso da UFFS. Quando passei no concurso de professor a primeira pessoa que soube do resultado foi a produtora Simone Prior. Não imaginava que sua presença em São Borja e a posterior remoção para o campus de Jaguarão seria determinante para minha vida. A amizade e o companheirismo com outros professores e técnicos acabou determinando outras coisas. Participei da produção de “Missões”, documentário premiado no Festival Internacional de cinema de Bagé em 2014. É muito bom fazer parte do projeto Unipampa. Valeu a pena esperar o tempo certo para entrar na instituição. Espero que o projeto continue por muitos anos. A gente planeja, o destino muda o planejamento e a sorte se apresenta quando quer. Que bom.