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Contos-->O PERGAMINHO -- 13/06/2003 - 11:50 (ALEXANDRA APARECIDA JAHNEL PASCOAL) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O PERGAMINHO


No vale das sombras, onde os Deuses adormeciam, havia um grande e majestoso jardim e nele cresciam flores de todos os pontos do universo, pelas mãos habilidosas e gentis da Grande Mãe.

Nesse cenário de beleza começa a história da borboleta e do besouro, duas criaturas que conviviam nesse lugar e juntos acabaram descobrindo o preço que se paga pelos sonhos.

O besouro era uma criatura de formas estranhas mas de cores vibrantes, tinha a carapaça dura mas que guardava um enorme coração. Sempre fora de poucos amigos e sonhava com o que poderia ter sido e, muitas vezes, deixava passar os momentos bons de seu presente; tinha boa índole, mas uma personalidade marcante, sempre fora muito teimoso, porém raramente conseguia distinguir o bem do mal; para ele todos eram bons até que se provasse o contrário e durante sua vida muitos o provaram.

A borboleta nascera rosa, mas todos as suas irmãs eram azuis, então ela insistia ser também azul. Toda sua existência baseou-se em mentiras e não se sabe ao certo se a borboleta acreditava em suas próprias mentiras, mas tornou-se uma mentirosa compulsiva. No fundo de sua alma era uma criatura gentil, mas não permitia que ninguém se aproximasse de seu coração, pois ali estava toda a verdade de sua vida e essa findaria se alguém conseguisse ver sua verdadeira face.

Por motivos diferentes, tanto a borboleta quanto o besouro não se deixavam ver completamente; o besouro por se achar inferior e a borboleta por se achar superior; porém ambos eram tolos e cegos.

Como era de se esperar, os destinos desses dois seres se cruzaram e acabaram se relacionando. O besouro, com sua habitual forma de sonhar, tinha a imagem clara de uma borboleta enorme e clara, com vários desenhos nas asas que precisaria desvendar. Em meio a seus devaneios acabou achando que a borboleta realmente era azul, como a própria borboleta insistia. O besouro criou tantas fantasias que acabou por se perder dentre elas.

A borboleta via no besouro somente sua força, via-o como um ótimo escudo para tudo que a afligia; o sopro do vento da verdade, os raios do sol da indignação, a forte chuva dos tempos. Na realidade a borboleta procurava um refugio, já que não poderia viver para sempre nas sombras da nogueira sendo eternamente comparada a suas irmãs realmente azuis. Além disso, por considerar o besouro inferior, acreditava que esse aceitaria qualquer coisa para usufruir de sua agradável companhia, principalmente pelo fato de ser um tolo romântico, e realmente assim foi por algum tempo.

O besouro acabou por confundir humildade e humilhação, amor e fuga da solidão, mentira e verdade, fantasia e realidade e passou a aceitar as migalha do outro ser, simplesmente por não suportar a idéia de ficar só. Por muito tempo acabou acreditando ser inferior e passou a voar somente na sombra das asas da borboleta e acabou perdendo sua própria cor.

Muitos foram aqueles que lhe vieram falar das verdadeiras cores da borboleta, mas ele não acreditava, via-se como um besouro marrom, sem brilho e via a borboleta como uma enorme e bela borboleta azul.

As asas do besouro começaram a rachar devido ao peso dos dois seres e o besouro começou a solicitar concessões da borboleta e essa, que prezava sua liberdade acima de tudo, resolveu voar a favor dos ventos e partir, deixando o besouro com as asas feridas.

O tempo que o besouro ficou sem voar serviu-lhe para que percebesse coisas que lhe passavam em branco anteriormente. Quando a borboleta passava por sua cabeça, o besouro começou a perceber que o reflexo que as asas deixavam era de cor rosa e não azul, percebeu também que os desenhos que acreditava ver nas asas da borboleta pareciam ter sumido e que ela já não parecia tão grande quanto antes. Enquanto a imagem da borboleta diminuía e murchava na percepção do besouro a sua própria imagem parecia crescer. Ele percebeu que afinal não era um besouro marrom e tão pouco era feio, na verdade era um lindo besouro azul escuro, cujas asas fortes continham pequenas linhas prateadas. Percebeu que tinha uma força descomunal e um poder incrível dentro de si, o poder de escolher, sem medo, seu próprio destino.

O pequeno besouro tomou consciência de quão imenso ele era e, pela primeira vez em sua vida, olhou para o passado e viu-o de uma forma totalmente diferente, viu como eram tolos os erros que cometera e como sofrera tanto por coisas efêmeras, viu que afinal, teria sido mais feliz se, nos momentos tristes e solitários, se fizesse feliz. Não lhe importava mais se estava só ou não, o importante era ser feliz, um pouco a cada dia e desejar um futuro ainda mais feliz, mas sem fantasia-lo. O besouro tornou-se mais acessível para as demais criaturas, mas sem abrir mão de sua privacidade; começou a viver em uma bela realidade, trocando a fantasia em cores fortes pela sua vida real em tons pasteis e construindo sua toca na sombra de uma amoreira.

Quanto a borboleta, muitos testemunharam o seu destino. Tornou-se uma criatura mais superficial ainda e não se assumiu como uma borboleta rosa; enquanto o sol brilhava ela jurava ser uma borboleta azul, mas sob a luz do luar ela não conseguia fingir e assumia seu lado rosa se fantasiando de criatura da noite. Ela rompeu a barreira dos dois mundos e conheceu a permicividade e a promiscuidade, vendendo seus favores por muito pouco e perdendo um pouco do brilho dos olhos a cada dia. Ela não vivia mais nem na realidade, nem na fantazia e tentava a qualquer custo reaprocimar-se do besouro, pois precisava muito de um escudo.

O besouro, que agora era uma criatura feliz, não permitiu que a borboleta invadisse seus espaços e sua vida novamente e advertiu a borboleta de que agora, quem esta só era ela. A borboleta não podia mais voltar para a sombra da nogueira e disperdiçara a amizade e confiança do besouro, pousou nas margens de um riacho e olhou para si. Não mais se reconhecia, estava com as asas quebradiças e perfuradas e com uma tonalidade de rosa pálido; questionou-se de como teria sido se tivesse realmente assumido que era rosa e de como seria se vivesse uma vida verdadeira, sem se preocupar em quantas mentiras já havia contado e em quantos já havia pisado. Não se conformando, em um momento de desespero, atirou-se nas àguas do riacho e deixou-se afundar.

Os designios do destino são estranhos e inexplicaveis, mas o pequeno besouro acabou morrendo quase no mesmo instante, naturalmente e tão serenamente quanto merecia. Os senhores dos elementos sencibilizaram-se com a história do besouro e os senhores da terra fizeram com que a areia o engulisse, o fogo então queimou-o, vitrificando-o; os senhores do vento sopraram para tirar-lhe a areia e para esfriar seu corpo e os senhores da água conferiram-lhe o brilho de mil estrelas. O besouro transformou-se em um escaravelho de prata cravejado de safiras que adornaria principes, reis e sacerdotes no mundo dos mortais e seria uma das joias mais conhecidas e cobiçadas do mundo e jamais estaria sozinho novamente. Tornara-se tão grandioso quanto seu próprio coração.

Os senhores dos elementos também transformaram a borboleta; os senhores das águas tiram-na do leito do riacho, os senhores da terra esmagaram-na, os senhores do fogo aqueceram-na e os senhores dos ventos sopraram e transformaram a borboleta em um pergaminho rosa, pergaminho este que foi utilizado para um único propósito: guardar para sempre escrito em si, a história do escarevelho azul.


XANTRA LENHAJ
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