Os bilhetes estavam espalhados por todo o canto. Banheiro, bebedouro, porta, caixa de disjuntores, computador, bandeira do Grêmio, pia da cozinha, interruptor, e quem sabe mais? Haverão outros dias e é capaz de surgir uma nova mensagem.
Ela passou por lá muito rápido, e nem consegui fotografar sua presença. Esqueci de comprar as pilhas para a máquina. Esqueci também de dizer alguma coisa.
Ou não disse para ter o que dizer de outra vez. Eu sempre tenho algo para dizer, escrever talvez.
E ainda acabei comprando um pacote de balas para compensar a falta de seus beijos, roubados por um avião que decolou rumo ao centro do país.
Os beijos não engordam, mas o pacote de balas durou apenas dois dias. Claro que os lábios eram mais saborosos. Mil balas de morango não se comparam aos lábios de uma mulher.
Quantas calorias adquiridas pela sensação repentina de solidão, quebrada de vez em quando com a visão de uns retratos espalhados pelo quarto.
Os papéis de bala cheios de formiga lembraram dos olhos dela, formigando de felicidade ao som da música tocada no restaurante de esquina. Um beijo no restaurante da esquina, numa vida maluca cheia de esquinas dobradas e loucas.
O passeio de barco que não aconteceu, por distração ou pela água de coco sorvida no Espaço Alternativo. Água de coco com abacaxi no espaço onde o vento deslocado pelos aviões desloca os sentimentos.
No céu daqueles dias as estrelas brilhavam e eu não percebi. Ela estava por lá e deixei de olhar para o céu, embora por duas vezes a lua se oferecesse à contemplação.
Desprezei a lua brilhante e distante, que refletindo a luz do sol não poderia me trazer o mesmo tipo de inspiração iluminada.
Depois veio a comida japonesa, a surpresa da viagem surpreendida, o som do avião em direção à s gerais. Uma sensação estranha de pegar carona nas asas da liberdade e subir as alturas do universo em busca de uma esquina da vida.
Uma esquina e um destino, uma flor, um perfume de mulher, um abraço e um beijo, um monte de estrelas subindo o morro para dizer três palavras...