(perfil de Sebastião Salgado)
Sebastião Salgado, economista e jornalista, trabalha e vive com a luz. Não a suposta "luz divina" que rege mercados e quebra bolsas, tampouco a luz artificial de computadores nas redações dos grandes jornais. A luz, matéria-prima do seu trabalho e de sua vida, é natural e parcial. O preto e branco é sua sina.
Fotografia é luz, já dizia o fotógrafo. E luz é vida nas mãos deste brasileiro que, com magia e sensibilidade, transforma em arte o trabalho humano, o trabalho escravo.
Foi na França de Cartier Bresson, "guru" de Sebastião, que o interesse pela fotografia tornou-se um vício. Sua mulher, na época arquiteta, precisava de fotos de interiores e Salgado foi a cobaia. E é aí, de uma brincadeira, que nasce Sebastião Salgado, maior fotógrafo do Brasil.
Utilizando-se de seus conhecimentos económicos, a preocupação com o trabalho braçal ao redor do mundo tornou-se o foco de seu trabalho. Sabendo do avanço tecnológico, da evolução da maquinaria e das sutis leis de mercado, Sebastião começou a trabalhar com os trabalhadores. Sim, ele se envolve com tudo e com todos, homens, mulheres, crianças e objetos. E é com isso que ganha inúmeros prêmios e o merecido respeito.
Com sua càmera Leica, ele penetra nos centros esquecidos da escravidão humana, da mão-de-obra barata. Seja no "universo de fogo e fumaça" de uma siderúrgica em Minas Gerais, ou então nas plantações de cana do interior da Bahia. Onde houver trabalhadores em movimento, Sebastião estará lá para imortalizá-los.
Perfeccionista, trabalha com uma equipe de fotógrafos que o ajuda na escolha ds fotos certas, perfeitas. Dizem as más línguas que ele é profissionalmente chato, que trabalha demais em cima da foto. Porém, é isto que o fascina e que faz de seu trabalho uma missão: extrair o branco de vida e a beleza das trevas da miséria.
A modernização vem sendo o maior inimigo do emprego e dos empregados.
Por outro lado, a terra sofre e sofrem também os que dela necessitam para sobreviver. E foi em nome deste sofrimento que José Saramago e Chico Buarque uniram-se a Sebastião para fazer o livro Terra. Ali, no meio do nada, dos latifúndios e assentamentos, é que nos é mostrado o que ninguém vê, o que ninguém sente. Nada melhor então do que poesia visual, textual e sonora para homenagear a terra e os sem-terra.
Enfim, um exemplo. Um brasileiro que acredita no Brasil.
Encerro com suas palavras: "Eu fotografo com a minha ideologia".
Felipe Lenhart
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