Tudo começou na infància. Senira teve um distúrbio neurológico, que se transformou num constante mal estar, resultando em dificuldades digestivas e um bafinho de monstro.
Era alvo da gozação de colegas, sempre voltava para casa chorando, e embora fosse bonita, ganhou apelidos com bafo-de-porco, boca-de-dragão, valeta do amor e outras bobagens que nem merecem referência.
Aproveitou a adolescência para fumar, quando então adquiriu um hálito horroroso de vez. Misturava o bafinho de monstro com o cheiro de nicotina e a impressão que restava era a de que sempre havia comido um pedaço de carvão, ou lambido cinzas de um incêndio mal apagado. Fedia mesmo.
Namorou alguns bêbados, pois homens sóbrios não conseguiam suportar o ar empestiado dirigido por sua boca. Até a respiração da moça causava mal estar.
Isto durou até que um dia encontrou um rapaz que não fumava, tolerava seu bafo de dragão e demonstrou verdadeira amizade.
Senira percebeu que era amada e aos poucos largou o cigarro. Foi abandonando o estado tenso original e em poucos dias o mau hálito desapareceu.
O jovem não percebeu a princípio que o caso era de paixão, mantendo a amizade com Senira durante um bom tempo.
Certa feita os dois foram assistir um filme meloso no cinema, Senira derramou algumas lágrimas e o jovem, Euplício, começou a alisar o rosto da garota, resultando num beijo longo, que durou o tempo restante da película e mais um pouco.
Senira pouco apreciava os beijos, pois além de seu bafinho de monstro ainda levava azar de só beijar bêbados, deixando os prazeres para alimentar sua solidão.
Ao roçar os lábios de Euplício e sentir o sabor daqueles beijos incendiou seus lábios, seu corpo, e finalmente se fez mulher.
O relacionamento de Euplício e Senira durou muitos anos, com sumiço total dos problemas gástricos e a eliminação definitiva do cigarro.
Senira deixou Euplício com 20 anos de casamento e três filhos. Um càncer no pulmão acabou com o relacionamento. Consequência dos anos de frustração em que se escondeu no cigarro.