Espírito esportivo
Hamilton Lima
O movimento da rua era pequeno, mas a vitrine da loja chamava a atenção dos pedestres. Camisetas, bonés, bandeiras, calçados e bolas enchiam a vista de quem tivesse tempo para apreciar.
Parei para ver o mundo esportivo sintetizado no alto da Sete de Setembro, na noite solitária de verão.
Procurava camisas ou qualquer coisa com o emblema e as cores do Grêmio Porto-alegrense, apenas por curiosidade.
A loja fechada estava decorada por objetos com símbolos de Flamengo, Guarani, Palmeiras, Corinthians, Internacional, Vasco, mas nada do Grêmio.
Estava quieto a pensar na falta de sensibilidade dos comerciantes, que repetiam erros ao esquecer do grande tricolor dos pampas, quando uma cabeça despontou no meio dos calçados.
Um ratinho, quer dizer, uma ratazana, conhecida também por gabiru na cidade de Porto Velho, resolveu brincar com os artigos esportivos.
Apanhou um skate, deu umas voltas, praticou manobras radicais e jogou o acessório num canto. Fez de conta que não me viu e seguiu para os alteres. Ergueu o mais leve algumas vezes, logo passando para uma prancha onde fez exercícios abdominais.
Era uma ratazana exibida, de tal forma que apanhou uma bola de tênis e começou a fazer embaixadas, arremessando a esfera para o alto e, acreditem, matando no peito, elevou novamente o objeto de trabalho de Gustavo Kuerten e completou o ato com uma bicicleta.
Eu já estava começando a ficar com raiva do rato pela sua performance quando o roedor olhou para o alto e vislumbrou a camisa do alvi-negro do parque São Jorge.
A ratazana correu para o cabide e carregou a camisa do Corinthians. Era muito menor que o tecido, mas lambia o objeto de sue desejo com muito fervor.
Logo em seguida apareceu mais um bando de ratos, todos metidos a esportistas. Tomaram conta do cenário. Um leve piscar de làmpada espantou a ratazana.
Pude vê-la sorrir, ao disparar para o fundo da loja seguido por seus irmãos. Um deles apitou e outros ratos cataram camisas do time de Sócrates, promovendo a maior bagunça no estabelecimento comercial.
Percebi que as horas passavam e fui embora, deixando a algazarra dos ratos corintianos para trás.
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