Tenho recolhido grandes alegrias com a cultura dos e-mails. É verdade que muitas vezes não ouço a voz do interlocutor nem vejo seu rosto, mas esta perda é recompensada por uma percepção espiritual do outro.
Recebo uma boa média de mensagens eletrônicas todos os dias. É claro que há coisas inconvenientes como propagandas em inglês, convites para visitar sites pornográficos e aqueles vírus vinculados “inocentemente” a mensagens de amor.
Contudo, os fins justificam os e-mails quando é possível entrar e ficar em contato com pessoas que nunca vimos... e talvez jamais conheçamos pessoalmente, pessoas que existem, que pensam, e que... escrevem.
Outro dia um rapaz do Rio Grande do Sul escreveu-me dizendo que tinha lido um artigo meu, por indicação do seu terapeuta. Dizia: “Preciso confessar que fiquei impressionado com o modo como você fala o tema da depressão. Venho tratando deste assunto exaustivamente, mas foi após a leitura do seu texto que as coisas tornaram-se mais claras para mim.”
Mais do que o elogio, alegra saber que as barreiras de tempo e espaço estão quebradas pela palavra eletrônica. Não sou especialista em depressão, mas o pouco que fiz ajudou um semelhante.
É engraçado, por outro lado, conseguir conversar com pessoas que moram na mesma cidade, às vezes no mesmo bairro, mas por vários motivos estão longe de nós: medo de sair à noite, trabalho excessivo, horários incongruentes...
Outro dia, uma amiga lembrou-me o óbvio: “olha, liga de vez em quando porque também se pode falar por telefone, lembra-se?”
Claro, mas não há perigo algum quando se escolhe as palavras com carinho: nunca te vi sempre te amei!
Uma aluna virtual em Los Angeles, depois de meses, veio ao Brasil e trouxe-me de presente um mouse sem “rabo”, sem o fio que às vezes atrapalha quem gosta de escrever ao computador cercado de papéis e livros como eu. Que detalhe! Ela me imaginava trabalhando enrolado em fios e pensou: “Já sei que presente vou lhe dar!”. Digam-me se isso não é amar o próximo...
Os fins justificam os e-mails quando somos disciplinados e conseguimos responder a todos com rapidez. Essa rapidez é sinal de interesse, de cuidado, de consideração. Exige o hábito de pensar em cada pessoa, dizer-lhe palavras especiais, e nem precisa ser uma carta muito longa, um bilhete já basta. Um “olá, tudo bem?”. Até um aparentemente frio... “ok”.