A loucura está posta na mesa a teu serviço.
Você tem o poder de apagar a luz,
De comer gente,
De mastigar gente entre os dentes,
De explodir o mundo com um botão,
De ficar sozinho para sempre
Num mundo totalmente diferente
Único habitante, ermitão.
A loucura, o teu pensamento digerido,
A dor única que atormenta na boca, no siso,
Mil mandíbulas de raça humana rindo
Do teu carnaval solitário, do teu agosto,
Do teu desgosto,
Da marca de nascença em código de barras
A selar o destino: infeliz!
Tentou salvar pessoas, morreu afogado no nojo
Da multidão que te denunciou, que te deixou de lado
Na tua festa vazia, o teu escárnio.
Pega agora a faca e o garfo, engole a tua vida
Mata, suicida, a flor do lácio,
Cessa o sopro, cala a respiração,
Mas antes canta um refrão de uma canção desgraçada.
Faz da loucura o teu carnaval pessoal,
Dança na frente do espelho para ser mais um
Mais do que o nenhum que é a tua soma,
explode o angioma na cabeça,
joga confete e serpentina, mas não esqueça,
aconteça o que aconteça,
seja louco, completamente louco nessa mesa
que a tortura é a janta da fartura,
que a loucura te leva para longe
te deixa idiota
te faz acreditar em Deus
e alivia o martírio.
Se come, se morre, se devora, não chora
Automático.
E o pior, o mais enigmático,
O que ainda persiste e não desiste
É que na superfície da tua sopa
Não está a tua face.
É o desenlace, porque há muito
Você se foi.
No cardápio está a sua vida
Nada mais lhe pertence
Você não tem patente, não tem nome,
Você não é mais uma criança
Morreu, sem esperança,
Aquele que um dia, antes da patifaria,
Se chamou Ricardo França.
|