Noite, amante doce em meu berço negro
Que te mereço mansinha para deitar
Sentir tranqüilidade em teu sossego.
Noite em teu céu luzes acenam e piscam
Disco-voadores passam e fotografam
A Terra tua filha metade noite metade dia
Noite, minha doce noite, noite neguinha
Em teu corpo denso de noitinha
Adormeço
Teço poemas ao acaso buscando alívio
Sou lentamente teu pedaço
Quase enamorado e viajante, pesquisador
Científico
Do que te diz respeito e ainda não se explica.
Noite, querida noite metafísica, feita de gemidos
E rostos desconhecidos que te transitam
E que circundam em trânsito espetacular
Nas ruas, no espaço, sobre a cama,
Nas mensagens velozes que cruzam
As fibras ópticas,
Nas salas de chats da Internet,
Tudo está em você noite poderosa, tudo te pertence
E germina partícula e gente e bicho no teu ventre (25/10/2000)
Renasci novamente nesta noite bêbado.
Não posso fazer versos racionalizados.
Não poso racionalizar a poesia. Estou idiota. (26/10/2000)
Não existe bandido de preto.
Somos todos multicoloridos.
A noite - e apenas ela - é negra.
Pantera com atos ferozes.
Essa fera está em mim encantada
Por isso não me dilacera a carne
Nem com a unha nem com a faca.
O bicho surpreendido em desarme
Tem medo de nossas vozes
Nos bares.
Noite, por isso tu é da pá virada.
Noite doidona,
Noite amalucada
Noite moderninha, noitada.
Não se dorme em noite assim,
Simplesmente acende-se a luz
E espanta-se os morcegos.
Depois apaga-se a luz
Para a paz dos fantasmas.
Não se dorme em noite assim.
Para isso existe o beijo na boca.
Boca com boca boca com boca boca com boca
Até o dia raiar.
A noite esconde línguas emboladas, beijos em exercício.
O sexo é livre. Faz quem quer.
Quem não quer não faz. Azar.(16/11/2000-0h46)
O que sinto agora é a noite por dentro.
Estou bêbado de tristeza. O meu filho está longe.
Não sou pai faz muito tempo.
Não quero fazer PoÊterÊ,
Não quero cantar PoÊterÊ,
Não quero gritar PoÊterÊ.
Quero ficar em silêncio,
Coisa contrária ao barulho.
Quero ser menor que o ruído,
Muito menos do que o sussurro.
Sou nada.
Sou merda poente.
O vento que passa na casa vazia,
Casa demolida
Casa amada e vendida
Casa cativeiro da SOLIDÃO.
Ai, agonia...
Ai, agonia que já levou tanta gente!
Comigo não agonia, estou na trincheira
E vou te vencer, sou diferente. (28.11.2000)
Tenho companheiros fantasmas,
Não estou sozinho, ouço vozes.
Não estou louco, mas doidamente sadio
invento troços desgraçados,
Poemas tristes, desmetrificados,
As vozes calam e escutam
Ouço choros, lamentos, risos,
Gargalhadas, silêncio.
O meu filho abortado aparece e me chama de pai.
Sua carne é translúcida, feita da mais completa distância,
Da mais absoluta falta.
Estou morto de saudade e de arrependimento.
A morte me come por dentro mas não tenho câncer,
É uma dor incurável que dilacera a carne figurativa
Da representação Ricardo França.
O flagelo me visita à noite, como um tiro de fuzil no peito.(29/11/2000)
Noite negra mulher que deita comigo
E geme e treme e remexe e chupa e beija
Depois me arrebenta, me denuncia, me despreza,
Me agonia de solidão perversa
Noite vagabunda. (1/12/2000)
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