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Poesias-->COMO PROCEDER NA HORA DA MORTE -- 17/12/2003 - 13:56 (Ricardo França de Gusmão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não conte com ninguém na hora da morte.

Deixe apenas uma nota de Real para o coveiro.

Ele é um trabalhador assalariado, coitado,

que sobrevive enterrando pessoas assalariadas e coitadas.

Deita na tua caixa o corpo já sem vaidade,

sem máscaras e notoriedade e relaxa.



Não há dor na morte nem classe social.

Toda morte é coberta com cal.

Ocorre nela apenas desintegração e paz.

Uma paz inexorável e pessoal

que não faz mal.



Não exija choro nem vela dos que ficam.

Ladainha, passeata, cantiga.

Manifestação na esquina, passeata, cantiga.

Você morreu mas a vida prossegue.

A tua fotografia, amarelada, basta para saciar a saudade.

Os compromissos já foram firmados.



Teus conhecidos têm uma agenda a cumprir.



A tua história, o teu passado,

ficam com você

na tua caixa.



O porvir não é mais teu,

portanto, não reaja.

Não se revolte

nem se transforme

num fantasma.



O teu gosto bom,

o teu momento de caridade,

o teu dia de canalha

serão avaliados

por uma comissão de anjos.



Se você for um morto que valha

os anjos tocarão banjos

e a música freqüentará

o teu velório simplório.



Não é necessário luxo

na chegada,

e na partida muito menos.

Você veio de uma barriga

e numa caixa

nós iremos.



Contudo - se elas aparecerem ! -

as amantes que você teve em vida (!!)

fica alerta para levantar da caixa

e ajudar a apartar em caso de briga.



Na hora da morte

as amantes ficam emotivas.

Enfurecidas

não compreendem

a tua hora expirada, desmascarada,

e as tuas dívidas com o divino.

Elas só querem saber de prazer,

daquela parte que era o melhor de você.

Que Deus perdoe as amantes.



A melhor despedida, porém,

é aquela que se dá deserta

e sem testemunhas.

Porque, pela primeira vez,

o silêncio te pertence completamente.

E a dor é completamente tua.

O teu fiasco, o teu colapso

merecem uma passagem

sem necropsia.



Você dentro de uma caixa fechada

com as flores do lado de fora.

As flores foram feitas para enfeitar

os olhos dos vivos.

E você não poderá vê-las.

Muito menos sentirá

o sol,

e a saudade

fio e último vínculo

com a Humanidade

também não será

responsabilidade tua



E você será esquecido aos poucos

até amarelarem as fotografias,

até as traças roerem

a caligrafia e os versos

dos teus poemas.



Nesse momento, então,

só nesse momento,

você se igualará à morte completamente.



E isso não será o pior

nem instante tanto perverso.



Simplesmente não fará diferença.

Como se você nunca tivesse existido realmente.

A não ser

que em vida tenha mudado o destino do mundo.



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