Às 23 horas é saudável virar débil mental.
A minha amiga é a maçaneta, o objeto sobre a mesa
Que minutos antes era cinzeiro,
é meu verdadeiro companheiro.
Oi amiga porta, oi amiga torneira, oi amigo sapato!
Tenho objetos mas não tenho amigos.
Não tenho família para conversar, desconversar,
Discutir, ficar em silêncio.
Os meus entes estão ao nível do mar,
E eu, tão pertinho do céu,
Sou pai sem filho para brincar,
Sou pai sem filho para chamar de filho,
Sou pai ausente
Com um esculacho sangrando no peito.
Por isso sou meio do avesso,
Amigo do martelo e do chuveiro
E da aranha que faz sua teia na janela.
Não ouso mexer na teia dela,
porque, se ela for embora, ficarei mais sozinho.
Por isso preservo os verdes vagalumes que não piscam.
Preciso da luz desses pequeninos
Quando adentram pela sala
Feitos de antigravidade e incandescência.
A minha luz não têm asas,
Não sei bem quando ela está acesa,
Quando ela funciona.
Mas ainda estou espetacularmente vivo,
Com pressão alta, no alto do Rio de Janeiro.
Teresópolis é o meu paradeiro.
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