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Cartas-->A Carta Mais Chata Que Já Escrevi -- 03/02/2003 - 08:44 (Ingrid Valiengo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Espere um momento. Não crie expectativas. Eu sei, tive culpa por esse dia morno, sem palavras. Mas veja, não estou no meu total estado de sanidade (e o pior: não quero estar). Até que escrevi muito hoje. Você não pode reclamar. Alias, do que mesmo você reclama? Tudo está bom? Pareço perfeição vinda de você. Quero saber onde está meu erro, não desejo essa vida morna. É chato demais para mim.
Vou te contar a verdade. Não quero ficar nessa ânsia de escrever sempre. Isso não é vida! Parece até um vicio monótono de um dos velhinhos da praia aqui perto de casa. Acordo, quero escrever. No ônibus também. No trabalho? Nem mais almoço! E quando chego em casa já não estou dando bola para as pessoas. Só o que me acontece é o terrível ritual de sentar-me para escrever. E que fim leva tudo isso? Depois vem você dizer que não escrevo. Sim, escrevo e muito. Porra, estou escrevendo!
Sexta-feira fui ao banco, a fila estava enorme, para variar. Do outro lado da rua avistei uma papelaria. Então, meu cérebro não quis outra coisa: a fila parada e eu querendo comprar papel para escrever. Comecei a bater os pés, roer as unhas. E não teve jeito. Pedi ao senhor atrás de mim para guardar meu lugar e fui ao encontro da loja. “Moça me dê um bloco. Qualquer um. Não importa o tamanho. Anda logo!” Voltei para a fila. Onde apoiar o papel? Olhei para o lado, para o outro e nada. Deu-me vontade de pedir emprestado as costas da mulher na minha frente, mas... Não estou tão louca assim. Parede! Sim, a parede! É nela mesmo. Quando dei por mim, estava com a bolsa nas costas, com os braços na parede, uma mão segurava o papel e a outra escrevia. A fila foi andando e eu lá, na fúria de escrever. Minha vez de pagar as costas chegou. Ah, com tanto papel, tomei vaia da fila.
Tem gente que fala muito. Gente que reclama. Eu escrevo. E daí? E daí que já estou perdendo a paciência com as palavras que vão saindo nos papeis. Nada novo. Não tenho nem mais o trabalho de revisar. Adeus. Escrevi, morreu. Às vezes, encontro algum papel perdido e me surpreendo: eu escrevi isso? Está uma merda! Como pude? Em outros casos, fico até satisfeita. Esses acontecimentos são raros. Agora estou na fase de não parar de escrever e brigo com o que escrevo.
Anos atrás tinha a idéia de que, se me trancasse no quarto por uma semana, poderia fazer um texto perfeito. Então, resolvi experimentar. Fiquei lá no quarto. Pensei, pensei e depois de duas horas resolvi escrever. Saiu tudo errado: o telefone tocou, amigo chegou, fiquei com fome, o cigarro acabou. Enfim, a idéia foi para o brejo. Parei com essa obsessão na hora em que descobri que poderia me desencilhar do mundo e apenas escrever.
Pois bem, aqui estou, meu amigo. Fazendo o possível para parar. Quero parar. Ficar um dia, pelo menos, sem escrever. E você, o que faz? Reclama. Ah reclamou! Não sou tão perfeita assim. Bom ponto de conversa. Vou escrever sobre isso.
Nunca fui perfeita. Até já quis. Imaginei aquela fila de admiradores, todos pedindo autógrafos da perfeição. Mas é muito chato isso. Imagina só: “como você é linda, inteligente, engraçada!”. Um porre. Daí desliguei essa idéia. Hoje trabalho nas imperfeições. Não gosto dos meus pés, uso milhões de cremes e brigo com todos os dermatologistas que conheço por causa disso. Seria uma imperfeição ter pés feios? Se arrumar um namorado que goste de dedinhos, estou ferrada. Outra coisa. Sabe o que não gosto? “Ah, Ingrid, saia desse quatro, chega de ler e ouvir musica, vá arrumar um namorado!”. Bem, as 03:00 de uma segunda feira chuvosa é difícil arrumar namorado. Faço isso as sextas feiras de noite, ta bom? O que mais... Ah, não sei. Sei que perfeita não sou. Mas sou legal, juro. As pessoas gostam de mim e gosto de algumas.
Que merda! Alguém me manda parar de escrever, por favor! Fazer alguma coisa? O que? Estou de regime, não posso cozinhar. Sair de casa não dá (são três da manha de segunda feira, já contei!). Ver filmes? Já assisti todos daqui de casa. Chat? Estou achando um porre. Fumar um cigarro? Mias um? Matar-me? Será que no inferno tem papel e caneta? Ah quer saber? Não vou fazer nada. Deitarei nessa cama e “conversarei” com minha insônia.
(minutos depois...) Oi, voltei. Minha insônia está muito chata hoje. Diz que só vai dar uma trégua lá para o fim do mês.
Enquanto eu estava quieta, deitadinha na minha cama, observei um casal no apartamento da frente, que resolveu falar alto na janela. E para minha surpresa, o assunto era sobre mim. Olhei bem para lá e fiquei séria. O casal então começou a dar thau, apontar e perguntar se eu não iria dormir. Falei que não tinha sono, estava pensando na vida. Os dois “pombinhos” falaram que se exercitaram muito e perderam a vontade de dormir. Eu, sem graça, fechei a janela.
Sim, sexo pode ser um ótimo substituto para a escrita. Tenho uma amiga que substitui qualquer coisa por sexo e é muito feliz. Mas nesse apartamento, sexo está fora de cogitação (e não vou entrar em detalhes!).
Bem, meu amigo. O que será de mim? Cairei na total loucura por não achar palavras certas? Serei enterrada com papel e caneta? (nossa, essa hipótese seria muito interessante!). Diz-me logo. Manda um mail. Mas por favor, coloque reclamações, diga que esse texto está uma merda e devo refaze-lo. De-me coragem para queimar canetas e folhas em branco. E, principalmente, não me peça mais para escrever!
Ah, falando em escrever...(risos)


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