14 usuários online |
| |
|
Poesias-->HAPPY END -- 18/12/2003 - 14:27 (Ricardo França de Gusmão) |
|
|
| |
O marido mata a mulher
na casa em frente.
A mulher mata o marido
na casa ao lado.
Um ônibus vira
cospe e vomita gente,
enquanto um repórter
- inexperiente -
entrevista um crânio
esfacelado.
No céu
escuro e nublado,
dois aviões
cumprem rota de colisão:
seus radares estão pifados.
Na caixa-preta
(descobriu-se depois)
que o acidente
onde morreram 732
teria sido planejado.
A modelo internacional
percebeu
que atrás de sua face
- milionária -
existia uma caveira
não tão bonita
- que sorria -
e que sua morte seria
deficitária.
João matou Tereza que matou Raimundo
que matou Maria que matou Joaquim
que matou Lili
e que só não matou J. Pinto Fernandes
porque Drummond não o colocou antes
na história.
José também deu um tiro na cabeça.
Na alta sociedade
- com cuidado -
uma meleca é depositada
atrás da cadeira.
Um fotógrafo flagrou o lance.
Ficou provado, no escândalo,
que a burguesia também tem sujeira no nariz.
Enquanto isso,
no beco,
um peteleco
desmonta o esqueleto
e o eco
espalha a notícia
e espanta!
Que vírus corroeu a esperança ?
Pois Sofia virou pedra.
Pois a brisa nos congela.
E ascende dessa vala
hipocrisia permanente.
Que plastifica a gente.
E a mosca já não incomoda,
pois se é Bayer...é bom.
E o cadáver tão bonito,
traje esporte, último tipo!
Bobagem é menino morrer de tifo.
Pois depois do telejornal
tem comercial de biscoito.
E para alegrar o ambiente,
na novela das oito
o HAPPY END
força a gente
a acreditar na felicidade...
|
|