Depois de tantos amores,
de tantos vícios, de tantas dores,
depois da primeira estrela,
do astronauta e dos discos voadores,
depois do cartão de crédito,
da primavera e seus licores,
depois do Império Romano, do Império Serrano
e dos gladiadores,
depois do Bruce Leee, do arco-e-flecha
e da água-tônica,
depois do siri, da chata festa
e da bomba atômica,
depois do laser, do cianureto
e da peste bubônica,
depois do porre, da mini-saia, depois da praia,
depois da briga, depois do soco,
depois do espirro, depois do uísque
com água de côco,
depois do chute, depois do ´puf´,
depois do pote, depois do serrote,
depois da Bahia, depois do norte, depois da azia
e depois do cangote,
depois do livro, depois do ´pimba´
depois da marimba, depois do mate,
depois do filme, depois da missa,
depois da língua com a outra língua,
depois do Halley, da letra a,
e do apartamento do BNH,
depois da China, do Maracanã, do feijão com arroz
e do Vietnã,
depois de tudo, depois do pois,
depois do um e depois do dois,
depois da mordida e depois da maçã,
depois da saudade e depois de amanhã,
e depois e depois e depois e depois
tu apareces
antes tarde do que nunca,
toda com açúcar
para eu não reclamar...
Mas por quê, amor, demoras-te tanto ?
Se meu coração não é uma caixinha de espera.
Se o inverno é frio e a paixão tão secreta ?
Então, por quê, amor, demoras-te tanto ?
Se nem telegrama matou saudade.
Se na televisão nunca vi tua imagem.
Diga por quê, amor, tanto demoras-te ?
De certo não sabes o quão terrível é a solidão.
Ter um vago no peito, um corte no coração.
De certo não sabes como eu sei de sofrimento.
Quando cheguei a imaginar que o teu beijo era vertigem
e a tua forma de fumaça,
que a tua carne de tão virgem
não existia de pirraça!
Mas agora amar será palavra dócil.
O cio vício selvagem ócio.
Já que de tanto amor
a distância e a dor
foram paradoxos.
Incendiaram o fulgor
no liqüidificador
dos nossos corpos.
Quero amar-te como amaram os personagens de Shakespeare.
E atados com laços de vidro, virarmos um poema de Vinícius
ou uma canção da Rita Lee...
|