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Artigos-->Visita e entrevistas com autoridades de Belize -- 18/02/2023 - 12:40 (LUIZ CARLOS LESSA VINHOLES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

VISITA E ENTREVISTAS

COM AUTORIDADES DE BELIZE

 

Como preâmbulo do que aconteceu durante minha visita à Belize, primeiramente, registro informações que, acredito, permitem melhor acompanhar o que consta deste artigo abrangendo os três atarefados dias de trabalho que, ao mesmo tempo, são como um retrato do que encontrei na pequena ex-colônia britânica da América-Central.

 

Em abril de 2004, o embaixador Celso Amorim, ministro das relações exteriores do Brasil, e o embaixador Moisés Cal, diretor de Cooperação Internacional e representante de Belize em foros internacionais, foram signatários do comunicado conjunto, de 23 do mesmo mês, sobre a reunião do Sistema de Integração Centro Americana (SICA), instituição fundada em 12 de dezembro de 1991 e, desde 1º de fevereiro de 1993, tratando de assuntos relativos à econômica e política dos Estados centro-americanos.

 

 

Belize e Belmoplan

 

Graças às atenções e à valiosa e permanente assistência que me foi presdtada pelo incansável embaixador Cal, desde o desembarque em Belize até a partida no retorno ao Brasil, tive oportunidade de conhecer e muito aprender sobre aquele país e sobre Belmoplan, sua capital.

 

Originalmente habitada pelos maias, Belize, antiga Honduras Britânica situada no Istimo de Yukatan, às margens do Mar das Caraíbas, faz fronteiras com o México ao norte e com a Guatemala ao sul e oeste, tendo o inglês como língua oficial, mas usando também o espanhol e o criolo nativo. O país tem uma área de 22.969 km2 e sua população, hoje, é estimada em cerca de 397.000 habitantes. Em 1968, graças à arbitragem dos Estados Unidos da América do Norte, Reino Unido e Guatemala, seus lindeiros reconheceram sua independência em 1981 e 1992, respectivamente. A herança mopan-maia sempre esteve presente na cultura e nos costumes dos povos de Belize, seu subsolo é rico em pedras preciosas, sendo que a famosa máscara do Kinich Ahau, feita de jade, foi encontrada em Altú Hasta, a 30 km da Cidade de Belize. Na agricultura salientam-se o cultivo da soja, milho, feijão, abobrinha e pimenta. O país é membro dComunidade das Caraíbas (CARICOM), da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), do Sistema da Integração Centro-Americana (SICA) e da Comunidade de Nações. Rico em madeira – matéria-prima explorada pelos primeiros mateiros e maciçamente exportada para a Europa -, boa parte das edificações utilizam este recurso, construindo prédios de dois e três andares de muita beleza. Historicamente, Belize sempre teve problemas com a Guatemala, com acusações mutuas de invasão de suas fronteiras e com os assentamentos ilegais de imigrantes guatemaltecos, assunto da pauta da reunião de janeiro de 2001, organizada pelo embaixador Cal, convocando embaixadores do Canadá, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Panamá, Espanha, Suécia e Noruega. Belize está na rota dos furacões atlânticos que, periodicamente resultam em problemas de ordem social e econômica, principalmente para as atividades agrícolas.

 

Belmoplan, capital de Belize, cujo nome resulta da junção das primeiras três letras do nome do Rio Belize com o nome de um dos seus afluentes, o Rio Moplan, foi planejada e construída a partir de 1961 depois da passagem do severo furacão Hattier; está localizada no Distrito de Cayo, no interior do país, ao leste do Rio Belize e a cerca de 80 km da costa. Declarada capital do país em 1970, em 2004 sua população era estimada em aproximadamente 14.000 habitantes, ficando atrás da Cidade de Belize e do povoado Santo Inácio. Nunca esqueci as vezes que, em companhia do embaixador Cal e de seus amigos, provei da sofisticada cozinha belizenha em restaurante no Belize Biltmore Plaza, no centro da capita, região onde hoje estão os sofisticados hotéis da lucrativa indústria do turismo.

 

 

Primeiro Encontro com o Embaixador Celso Amorim

 

Conheci ao embaixador Celso Amorim em Assunção, em setembro de 1973, quando, no início de sua carreira, integrava a missão chefiada pelo embaixador Gibson Barbosa, Ministro das Relações Exteriores do Brasil, que deveria assinar a documentação que permitiria o início das obras da Represa de Itaipu. Na ocasião, encontrava-me, há mais de dois anos, chefiando o Consulado-Privativo do Brasil em Pedro Juan Caballero, Província Amambai. Chamado a serviço pelo ministro Paulo da Costa Franco, cônsul-geral em Assunção, me fiz presente à recepção de boas-vindas oferecida ao embaixador Gibson Barbosa. Quando chegou minha vez para cumprimentar o visitante, fui surpreendido com a pergunta por ele formulada: “Vinholes, o que você está fazendo aqui?” Respondi que, no momento, embora lotado no Consulado-Geral em Assunção, estava a serviço provisório em Pedro Juan Caballero. Ele continuou dizendo-me que estivera em Tokyo e que a embaixada “precisava” dos meus serviços. Perguntou, ainda: “Você não gostaria de voltar para Tokyo?” Eu que já estava cansado com as demandas e dificuldades do trabalho naquele posto da fronteira com Ponta Porã, MT, respondi positivamente, mas, ponderei, que precisaria consultar em casa. Ato contínuo, o embaixador Gibson concordando, disse-me: “Faça isto e deixe um bilhete com o Amorim”. Feita a consulta e tendo a concordância, redigi minha resposta nos seguintes termos: De conformidade com a instrução de Vossa Excelência, aqui está meu bilhete concordando em retornar ao Japão. Passaram-se alguns meses e, assim que indicado meu substituto no Consulado-Privativo, embarquei para Tokyo em abril de 1974. Outro rápido encontro com o embaixador Amorim, ocorreu na embaixada do Brasil em Beijin, quando lá estive, de 18 a 26 de março de 2003, para dar continuidade às negociações com o governo chinês, iniciadas nas reuniões na ABC, sobre as condições apresentadas pelos dois governos para um acordo de cooperação técnica bilateral, contemplando, inclusive, a cooperação triangular com os países africanos.

 

Autorização da visita

 

No encontro na Guatemala com o ministro Amorim, um dos assuntos prioritários apresentados pelo embaixador Cal foi o da possibilidade da participação da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) nos projetos almejados pelo seu governo. Ato contínuo, atendendo a orientação do ministro Amorim, a direção da ABC determinou minha visita àquele país, uma vez que, a serviço, me encontrava na vizinha Guatemala.

 

Para habilitar-me a cumprir a missão, em 7 de maio visitei a Embaixada de Belize na Guatemala sendo recebido pela ministra Kamela Palma, encarregada de negócios, e pelo primeiro secretário Oliver Del Cid. Na ocasião, além das providências relativas ao visto diplomático, foram abordados temas pertinentes à cooperação técnica prestada pelo Brasil e às necessidades e expectativas belizenhas com relação à cooperação que o Brasil poderia presta. Foi ainda mencionada a conveniência de celebração de um acordo de cooperação técnica bilateral, para facilitar a implementação de projetos. A ministra Palma adiantou a minuta do programa da minha visita ao seu país.

 

 

Visitas às instituições e às autoridades de Belize

 

Desde a chagada a Belize, no translado a Belmopan e nas entrevistas nessas duas cidades, contei com a valiosa presença do embaixador Cal, bem como da doutora Melanie Quigley, diplomata formada na Escola de Diplomacia da Costa Rica, lotada no Ministério do Desenvolvimento Nacional. Das visitas às instituições sediadas em Belmopan também participou o diplomata Gaspar Ken, Brazilian Desk do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Belize, ex-aluno do Instituto Rio Branco, em 2001.

 

Durante o trajeto entre Belize e Belmopan atendendo a pedido, tive oportunidade de informar ao embaixador Cal a constituição e o histórico da ABC e sua inserção no Ministério das Relações Exteriores. Foram esclarecidos os conceitos que guiavam as atividades da Agência, seguindo orientação da política externa de Governo brasileiro, e a metodologia de trabalho na escolha de projetos e atividades a serem implementados no âmbito da cooperação técnica horizontal. Foi também tratada a conveniência de assinatura de um acordo de cooperação técnica bilateral a fim de dar respaldo legal às ações que viessem a ser desenvolvidas. A guisa de subsídio, entreguei minuta de acordo, em inglês, preparada na ABC com base em acordos com outros países da Região Centro-Americana, ponderando que, quando formalmente manifestos interesses belizenhos, os assuntos seriam tratados por via diplomática.

 

De volta à Cidade de Belize, realizaram-se reuniões com a diretora-executiva da Autoridade de Gerenciamento da Zona Costeira, doutora Leandra Cho Ricketes; com a senhora Anita Zetina Chief Executive Officer (CEO), diretora-executiva equivalente a vice-ministro, do Ministério de Desenvolvimento Humano; e a embaixadora Dolores Balderamos Garcia, chefe da Comissão Nacional da AIDS, fundada em 2000 e trabalhando em sintonia com o Ministério de Desenvolvimento Humano.

 

A doutora Ricketes comentou a respeito da sua instituição e das atividades por ela desenvolvidas, demonstrando interesse não só em obter informações e apoio de instituições congêneres brasileiras que tratem da preservação da vida marinha e da flora costeira, especialmente de corais, mas, também, de compartilhar suas experiências com instituições brasileiras. Referiu-se ainda ao programa de monitoramento da qualidade da água, ao plano de preservação da costa envolvendo suas comunidades, sua experiência com o PNUD, donde recebe apoio para chegar a influenciar as políticas de governo. Disse ter especial interesse em informações brasileiras referentes à proteção das áreas marítimas e seu gerenciamento e no treinamento específico que é ministrado. Dentre outras informações, mencionei os setores do Ibama que operam ao longo da costa brasileira, as atividades de determinadas ONGs, do Projeto Tamar, organização brasileira sem fins lucrativos pertencente ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, e citei o trabalho das universidades que mantém setores especializados na vida marinha, tais como a do Rio Grande, na Região Sul, e a de Vitória, na Região Sudeste.

 

A embaixadora Balderamos discorreu a respeito do programa de prevenção e combate  HIV/AIDS; das dificuldades criadas pela oposição da Igreja Católica às campanhas de esclarecimento mais explícitas; do apoio que recebeu de organismos internacionais; da aquisição de antivirais para tratamento de 100 pacientes; do início do uso destes medicamentos em paciente masculino internado no Hospital Nacional; da discriminação que sofrem aqueles que adquiriram a doença e da dificuldade de garantir que cada paciente tenha, pelo menos, uma refeição diária. A doutora Balderamos informou que, em 2002, participou de seminário em Fortaleza sobre HIV/AIDS, promovido pelo FMI, e mostrou conhecer a política brasileira nessa área e saber da produção dos antivirais e da sua distribuição gratuita aos pacientes. Informou ainda que em Belize, o primeiro caso de AIDS foi detectado em 1986, que em 2002 eram conhecidos cerca de 3.000 casos, mas que se acreditava que 2% da população de 250.000 habitantes estava infectada. Afirmou que a cada três meses surgiam 110 novos pacientes, principalmente na classe média baixa, constituindo-se no mais alto nível de infecção na América Central. Disse ainda que nos anos 80 e 90 mais homens eram infectados e que, naquela ocasião, as maiores vítimas da doença eram as mulheres. Revelou que tinha medicamentos para tratar gratuitamente 200 pessoas, sendo 600 os necessitados, 90% dos quais no distrito de Belize. Informou, também, que em 2003, recebeu de Taiwan 100.000 camisinhas para campanhas de conscientização. Comentou que uma das maiores preocupações era com os órfãos infectados que não conseguiam adoção, com a recusa das famílias em permitir a permanência dos enfermos em casa e com o despreparo das assistentes sociais e enfermeiras sem treinamento apropriado. Confirmou que Belize fazia parte do Projeto de Ação SIDA para a América Central (PASCA). Terminou solicitando que o Brasil estudasse a possibilidade de oferecer: a) medicamento para garantir a continuidade do tratamento dos pacientes que estavam sendo acompanhados; b) estágio para especialista belizense conhecer os procedimentos seguidos no Brasil e c) envio de um especialista brasileiro para dar a orientação julgada pertinente.

 

No segundo dia da visita a Belize, novamente em Belmopan, avistei-me com autoridades de sete instituições sediadas naquela capital: senhora Nancy Namis, CEO do Ministério do Desenvolvimento Nacional; senhoras Margaret Ventura e Diana Locke, respectivamente CEO e assistente do Ministério dos Serviços Públicos; senhor Ricardo Thompson, engenheiro agrônomo especialista em irrigação, responsável pelos programas de produtividade do Ministério de Agricultura e Pesca; senhora Marion McNab, CEO do Ministério da Educação, Juventude e Esportes, senhores Amado Chan e Ernesto L. Xiu, responsáveis por programas especiais do mesmo ministério; doutor Paul Edwards, médico, diretor do Instituto de Epidemiologia do Ministério da Saúde e Comunicações e responsável pelo programa nacional de combate a AIDS; senhora Nigeli Sosa, diretora de indústria do Ministério de Recursos Naturais, Meio Ambiente e Indústria; e as doutoras Corinth Lewis e Debbie McMillan, respectivamente, presidenta da Universidade de Belize e diretora do Centro Regional de Línguas da mesma universidade.

 

A senhora Nancy Namis, apoiada pelo embaixador Cal, discorreu sobre as responsabilidades do seu ministério e sobre as dificuldades que encontrava face à exiguidade de recursos. Manifestou interesse especial em programas para as áreas de saúde - combate a AIDS -, e da agricultura e para o aperfeiçoamento da administração pública. Nesse encontro foi dito que o seu ministério seria a contraparte do Brasil na assinatura de eventual acordo de cooperação técnica bilateral.

 

As senhoras Margareth Ventura e Diana Locke informaram a respeito das atividades do ministério que ocupam e do processo de reforma do gerenciamento de recursos públicos, responsabilidade fiscal, automação e informatização de tudo que diga respeito ao orçamento e aos gastos. Manifestaram interesse em conhecer o processo de auditoria brasileiro, o formato dos relatórios de auditoria de gastos públicos e de poder contar com treinamento de auditores. Consideraram prioritário o treinamento de especialista em medicina legal, pois nem mesmo o setor policial de Belize tinha pessoal suficientemente capaz de coletar evidências básicas para um processo. Registaram que utilizam os programas Smart streem, para gerenciamento financeiro, e Personal manegement system, para registros de recursos humanos.

 

No Ministério da Agricultura e Pesca, o doutor Ricardo Thompson, na ausência do titular da pasta, fez detalhado relato sobre questões relacionadas à cana de açúcar e à soja, referindo-se à produção de apenas 17 MT/ha de açúcar e 1.700 pounds/ha de soja. Disse ter a pretensão de: a) produzir óleo de soja, b) conhecer o que é feito no Brasil com o bagaço da laranja e da cana de açúcar para evitar desperdício e c) saber qual é o aproveitamento industrial da banana que não é exportada ou consumida internamente. Anotei as informações apresentadas e limitei-me a comentar a respeito de outros produtos obtidos da soja, especialmente o leite, de alto poder nutritivo e que poderia ser utilizado na merenda escolar, conforme à pratica no Nordeste do Brasil, e para a alimentação dos aidéticos. O doutor Thompson mencionou o trabalho realizado pela Central Farm Research Station, instituição subordinada ao seu ministério, que seria a contraparte belizenha em eventual transferência de conhecimentos técnicos na área agrícola por instituição brasileira.

 

A senhora Marion McNab e os senhores Amado Chan e Ernesto L. Xin, do Ministério da Educação, Juventude e Esportes, referiram-se à necessidade de reforma educacional, à implementação de programas eficientes para a formação técnica vocacional criando instituições adequadas, à formação de técnicos em turismo, às oportunidades de aperfeiçoamento dos professores-técnicos, à capacitação dos envolvidos em atividades agrícolas; à necessidade de introdução do computador na sala de aula e citou a deficiência no ensino das ciências e da matemática pelo pouco preparo dos professores, inclusive no nível primário. Mencionou, sem detalhar, apoio que recebe da cooperação do México e concluiu dizendo acreditar na cooperação técnica que poderia ser prestada pelo Brasil.

 

No Ministério da Saúde, o doutor Paul Edwards informou que o medicamento há quatro anos utilizado em Belize para combate a AIDS terminaria no final de 2004, foi adquirido por US$2,5 milhões da firma indiana CIPLA, com apoio de Cuba e do Banco Mundial. Adiantou que, no final daquele ano, seria cogitada nova aquisição de antivirais de fonte a ser definida. Disse estar interessado na capacitação de recursos humanos – médicos, enfermeiras, atendentes -, para poder desenvolver programas eficientes e, na melhoria das instalações laboratoriais, para exames e testes. Reiterou as dificuldades para desenvolver programa eficiente de esclarecimento público, prometeu fornecer cópia do relatório relativo a 2003, tão logo disponível, e fez rápida referência aos entendimentos do seu ministério com o Ministério da Educação para desenvolver programas preventivos nas escolas do país.

 

A senhora Nigeli Sosa, diretora de indústria do Ministério dos Recursos Naturais, Meio Ambiente e Indústria, disse estar elaborando plano para criar instituição que cuide não só das pequenas e médias empresas, mas, também, da micro indústria. A nova lei, que já estava no Senado, permitiria coordenação entre as diversas ações do Governo neste setor, contando com financiamento do Governo de Belize e dos parceiros internacionais.

 

A presidente da Universidade de Belize, doutora Corinth Lewis informou que sua instituição foi criada no ano 2000, mencionou as dificuldades de ordem financeira que não permitem continuar a construção das instalações previstas no campus universitário; indagou sobre o sistema de seleção para ingresso nas universidades brasileiras e manifestou interesse em celebrar intercâmbio com universidades do Brasil, principalmente aquelas que ficam na Região Norte e Nordeste, por serem mais próximas. Disse manter intercâmbio com universidades europeias e do Canadá para estágios e treinamento de estudantes, tendo, pela proximidade, intensa cooperação com a Jamaica. Apontou a diferença das línguas usadas em Belize e no Brasil como uma das possíveis dificuldades para incrementar a desejada aproximação universitária. A doutora Debbie McMillan referiu-se à possibilidade de abrir vagas para universitários brasileiros estudarem inglês no Centro Regional de Linguagem que dirige e aperfeiçoarem suas habilidades como tradutores. Foi enfatizada a necessidade de obter apoio – projeto arquitetônico, financiamento, doações -, para a construção da biblioteca universitária e reunir seu acervo, espalhado pelas salas disponíveis em vários prédios do campus.

 

No último dia em Belmopan, tive duas entrevistas: com a senhora Lourdes Smith, presidenta-executiva do Serviço de Desenvolvimento de Investimento e Comércio (BELTRAIDE), agência nacional de desenvolvimento econômico; e com o embaixador Lawrence Sylvester, CEO do Ministério dos Negócios Estrangeiros belizenho.

 

A senhora Smith referiu-se às exportações de cítricos e banana, às perdas causadas pelo Tufão Íris, de 8 de outubro de 2001, às dificuldades na recuperação dessas lavouras e a necessidade de melhorar a qualidade das embalagens que usam para os produtos exportados, área na qual gostaria de contar com a cooperação brasileira. Segundo a senhora Smith, a produção de cítricos era o segundo maior setor agrícola do país, responsável por 19% das exportações e contribuindo com 9% para o PIB nos últimos 10 anos. Em 2001 foram registrados 1.055 produtores de laranja, dos quais 640 ligados a indústria. Dos 48.600 ácres em produção, 42.800 eram para laranja e 5.800 para “grapefruit”. A produção por ácre que era de 170 e 270 caixas para laranja e “grapefruit”, respectivamente, poderia chegar a 350 caixas. A produção dessas frutas teve baixa de 21% em 2002, devido à devastação provocada pelo Tufão Íris. Por outro lado, a produção de banana era substancial para a economia do país sendo que, em 1999, garantiu a entrada de US$ 26,1 milhões e em 2000 um aumento para US$32,5 milhões. As exportações de banana cresceram dos 56.000TM em 1999 para 64.000TM em 2000. O estrago provocado pelo tufão nas plantações de banana foi estimado em 85% e os prejuízos na indústria bananeira e no impacto social alcançaram o equivalente a 69.401.382 euros. As exportações em 2002 caíram para 48.000 TM.

 

O último encontro do programa de visita a Belize foi no Ministério dos Negócios Estrangeiros, com o embaixador Lawrence Sylvester previsto para durar não mais do que 10 minutos, conforme advertira o embaixador Cal, mas que se estendeu por 18 minutos, dado o interesse do interlocutor em conhecer detalhes sobre a ABC, sobre a cooperação técnica por ela prestada, bem como a concretização de algum projeto. Esta autoridade manifestou interesse na celebração do acordo de cooperação técnica com o Brasil, disse ter conhecimento da minuta apresentada pelo Brasil e surpreendeu quando externou seu interesse em que fosse estudada a possibilidade de assinatura de acordo para isenção de vistos diplomático e oficial o que, conforme disse, “seria uma mensagem positiva mostrando o bom relacionamento e o entendimento entre os dois países”. Ao término do encontro, o embaixador Sylvester agradeceu a visita, pediu-me transmitir ao ministro Celso Amorim sua satisfação com o gesto do Governo brasileiro de aproximação entre os dois países, qualificando de “histórica” esta oportunidade de troca de informações.

 

Em todas as entrevistas fez-se indispensável esclarecer aos interlocutores que a cooperação técnica brasileira não prevê doações ou transferência de recursos, mas, sim, o compartilhar de experiências exitosas pelas instituições brasileiras de reconhecida experiência que possam ser úteis ao desenvolvimento do país recipiendário, beneficiando a população menos favorecida. Nestes encontros, o embaixador Cal, inúmeras vezes, fez questão de salientar a cooperação privada brasileira no referente a produção de soja, a disponibilidade de vaga pelo Instituto Rio Branco que permitiu estágio de diplomata de seu país e os estágios oferecidos aos técnicos belizenhos que, por razões burocráticas, não foram aproveitados.

 

A todos os entrevistados entreguei exemplares das publicações Brasil a Nation for All, ano 1 nº 2, e a brochura sobre a ABC, em português e inglês, produzida em fins de 2003.

 

Epílogo

 

Por ocasião da minha visita a Belize, os assuntos relativos a Belize, eram tratados pela embaixada do Brasil no México, mas logo, ouvindo meus interlocutores, interessados em manter contato com o Brasil, se fez sentir a conveniência de contar com uma embaixada, chefiada por embaixador residente, para incrementar os contatos bilaterais com aquele país, contemplando, entre outras, a possibilidades de cooperação técnica.

Passaram-se alguns anos, as negociações e entendimentos entre o Brasil e Belize progrediram e, em 7 de junho de 2005, resultaram na celebração do Acordo Básico de Cooperação Técnica, Científica e Tecnológica. A satisfação das autoridades belizenhas com a conquista de mais esta etapa de aproximação, está expressa na mensagem, de 12 de julho do 2005, que recebi do embaixador Moises Cal, referindo-se à visita do primeiro ministro Said Musa ao Brasil: “....the Prime Minister's mission was a success, with the Agreements signed and our long-standing friendship with Brazil consolidated”. Aprovado pelo Senado, o acordo entrou em execução em 3 de novembro de 2008 e, em julho de 2009, graças à missão multidisciplinar da ABC, com base neste acordo, foram iniciadas negociações diversas e atividades para implementação de quatro projetos para Capacitação de Recursos Humanos e Validação de Variedades para a) Produção de Arroz de Terras Altas, b) - Produção de Feijão, c) - Produção de Milho e d) - Produção de Soja. Em 2010, atendendo a demanda do governo belizenho foi assinado o projeto de Apoio Técnico para a Implantação de Bancos de Leite Humano em Belize. Em virtude de dificuldades do lado belizenho o resultado destes projetos, nem sempre foi o esperado.

Assinatura de acordos de cooperação bilateral

É mister registar que, seguindo as instruções do ministro Celso Amorim, as negociações da ABC, visando implementar a política externa do Brasil com o Governo de Belize, surtiram efeitos imediatos, inicialmente com a assinatura do Acordo Básico de Cooperação Técnica, Científica e Tecnológica que o embaixador Lawrence Sylvester, acreditava ser “uma mensagem positiva mostrando o bom relacionamento e o entendimento entre os dois países”. Depois, a assinatura do Acordo sobre Isenção de Vistos para Portadores de Passaportes Diplomáticos ou Oficiais, que na visão primeiro ministro Said Musa mostrou que “a amizade de longa data com o Brasil se consolidou”. Em decorrência das negociações durante a visita do primeiro ministro de Belize, foi acordada a abertura reciproca de embaixadas sendo que a do Brasil foi criada em agosto de 2005 e instalada em Belmoplan.

Informações finais

Este artigo está baseado no memorando que, há vinte anos, como Assessor da Coordenação-Geral da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD), entreguei ao embaixador Lauro Barbosa da Silva Moreira, diretor da ABC, prestando contas dos inúmeros contatos pioneiros e das negociações básicas com instituições e autoridades de Belize, realizadas no período de apenas cinco dias de visita àquele pais. Graças à aprovação do embaixador Lauro Moreira, o documento que lhe foi entregue ganhando forma de despacho-telegráfico, foi enviado à embaixada do Brasil no México que, na época, comulativamente exercia jurisdição sobre Belize.

 

Redigindo este texto, também tive como objetivo deixar claro que, assim como procurei, no exterior, sempre fazer o melhor que me fosse possível para divulgar o Brasil, sua cultura, suas artes e seus costumes, bem como seus intelectuais e seus artistas, como Oficial de Chancelaria, funcionário público, os demais interesses brasileiros foram igualmente, objeto de minha constante dedicação em mais de quatro décadas a serviço do Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty), nas missões que me foram confiadas, inclusive na CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa -, na África, e Timor-Leste, no Sudeste da Ásia.

 

 

 

 

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