I. Mesa de blefes
Somos adversários nesse jogo.
Por isso aposto nas cartas do cassino
e planejo uma trapaça.
O sexo é a bolinha da roleta em movimento.
Ganhar pode não significar sorte.
Perder, pode não ser azar.
Do outro lado da mesa está a mulher
com batom vermelhão. Conheço esse tipo.
Não confio em sua boca de víbora.
Nem em seu beijo, nem em seu cuspe.
O baralho espalhado na mesa de blefes
convida a pagar para ver.
Mas não queremos ver o que se passa.
O luto está em nosso lado oculto.
O jogo é bruto.
II. Jogo erótico
A noite é densa e os Anjos do Augusto
lambem-se no altar da Igreja.
A poesia é pornográfica e o sexo salta dela.
Eu sou poeta ainda,
mas por mais que lindas sejam as minhas palavras
a rima é uma raspadinha da sorte.
Vida, aonde fica a estalagem da tua laia ?
Num lugar antes do sótão,
um prenúncio de porão ?
Vamos apostar os nossos corpos.
Se eu perder você me leva para sua casa.
Se eu ganhar, te cafetizo, piranha.
III. O rolar dos dados
A noite não te pertence, rainha de copas.
Teu Rei está de pileque e o valete de espadas
foi deitar com a dama de ouro.
Resta você, sozinha, espizinhada, a imaginar loucuras
e vinganças.
Mas as cartas estão embaralhadas
e a sua cabeça está confusa.
Saiba perder, mulher.
Há muito os homens aprenderam a praticar patifaria.
IV. Rodada de fogo
Um babaca pichou de grafite o meu chão.
Outro vetou no Congresso o aumento do meu salário
com um não.
Vou pegar o trem para lá de ninguém
e imitar sua voz de máquina, como imitava o meu avô:
café com pão, café com pão, café com pão...
E de mim, Ramon, o que dirão ?
Dirão...lógico que dirão...
Adeus moleque sem Deus, maldito ateu,
Ricardo França de Gusmão.
Pois, então, terei vencido.
É esse o jogo da vida, meu filho.
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