O velho professor estava sentado numa lanchonete, sorvendo um café com leite e saboreando pães de queijo. Uma manhã de sábado, tempo nublado, com tendência chuvosa.
Pensou que a primavera deveria ser mais comprida, para que o verão não judiasse tanto de sua saúde e o inverno poderia tirar férias.
Enquanto pensava na primavera procurou flores através da vidraça do estabelecimento comercial. Viu que algumas ainda resistiam na pracinha. A mesma pracinha onde Elisàngela costumava passear todos os dias.
A lanchonete era o ponto de observação do homem, que viúvo precocemente, não tivera a felicidade de encontrar uma nova companheira para administrar os dias.
Todos os dias, por volta das onze horas, Elisàngela costumava passar pela praça, com algumas amigas, saindo do colégio. Moça bonita, cabelos negros e longos, olhos vivos, acima do normal do conceito da palavra vivos.
Elisàngela passava, mexia nas flores, sentava no banco alguns instantes, conversava com as colegas e depois tomava seu rumo.
Pascoal não tinha coragem de falar nada para a estudante, tal a diferença de idade que os separava. Mas escrevia poesias. Mudava o nome da musa, tendo atribuído a ela pelo menos cem nomes diferentes nos sonetos cuidadosos que construía entre um café e um pão de queijo.
Nunca utilizava o nome de Elisàngela, para que o segredo permanecesse eterno.
A proprietária da lanchonete suspeitava de algo, mas sempre passavam seis moças, e não tinha certeza do amor recolhido do velho professor.
Foi escrevendo um hai-kai que o surpreenderam. Elisàngela e as colegas, ao entrarem na lanchonete.
Conheciam o homem, figura popular no bairro por ajudar a divulgar trabalhos culturais.
Elisàngela esticou os olhos e viu alguns textos rabiscados. Pediu licença para ler e ficou apaixonada pelos versos. Puxou conversa e trocou idéias.
Passou a frequentar a casa do mestre. Mudou prá lá algum tempo depois.