Joana, implorando por segredo, contou para sua melhor amiga, que fofocou para Beatriz, que escreveu para Maria, que bipou para Angélica, que mandou um e-mail para Diego, que ligou para Frederico, que caiu duro no chão: sua namorada Joana estava grávida!
Frederico levantou-se, sacudiu a cabeça crédula e tentou organizar as idéias. Sabia que deveriam ter tomado mais cuidado! Mas infelizmente haviam sido pegos pela inconseqüência juvenil.
O rapaz, fechado em seu quarto, depois de muito pensar na situação, acabou percebendo que afinal a gravidez de Joana era algo positivo, pois sabia o quanto ele era feio e burro, e por isso não via motivo nenhum que o ligasse definitivamente à sua namorada. Mas com aquele filho, Joana estaria sempre associada de alguma forma à sua vida. Não havia dúvidas de que teriam de se casar. Que maravilha! Perdeu horas e horas a imaginar a futura cerimônia.
Joana, vendo uma “baleia” no espelho, virava-se em diversas poses, mirando sua barriga.
-Deixa de paranóia, Joana! – diz sua melhor amiga, fazendo as unhas com desdém – Quando nascer, e você olhar para aquele rostinho, todo esse desespero vai embora... você vai ver!
-Nascer?? Você não entende! Eu não posso ter um filho!
-Você por acaso está pensando em abortar? Sua mãe ia ter um troço! Ela é tão religiosa que até peca de propósito pra Deus não perder o emprego!
-Sou jovem demais, e ter um filho vai arruinar minha vida!
A amiga sorri, irônica: -Essa criança só seria motivo de ruína se nascesse feia e burra igual ao Frederico!
-Ora! E ainda faz piada! Que amiga é você? Frederico não é nenhum galã de QI 150, mas sempre foi muito gentil e companheiro. – suspira então de desânimo – Nem sei como contar isso pra ele. Pra falar a verdade nem sei se vou conseguir disfarçar quando encontrá-lo...
-Você vai disfarçar? – perguntou a amiga.
-Bem... vou. Pelo menos até pensar em uma maneira adequada de dizer.
Nesse instante, toca o telefone, e Joana prontamente vai atender:
-Alô?
-Oi, Joana! Sou eu!
-Ah! Oi, Fred! Tudo bem?
-Tudo, e você?
-Tudo bem!
-Pois é...
-Pois é o quê?
-Nada, ué...
-Como, “nada”?? Viu só, Fred? A gente não consegue mais conversar direito! Acho que devíamos terminar!
-Terminar?? M-mas e o nosso casamento?? – inconforma-se o rapaz, deixando escapar, sem querer, os seus sonhos matrimoniais.
-Casamento?? Frederico! Por acaso você já sabe de alguma coisa??
-Eu? Não! Não sei! O Diego não me falou nada!
Joana sacudiu a cabeça, lamentando o gênio obtuso do namorado, que piorava em situações de tensão.
-Tudo bem... não importa mais... pelo menos você já sabe.
-Joana, eu sei que na hora parece uma coisa ruim, mas pense bem: essa criança é um fruto do nosso amor!
-O quê?? Fruto do nosso amor?? Esse bebê é um racho em nossas vidas! É um trator por cima do nosso futuro a desmoronar! É um câncer que vai doer e doer pelo resto dos nossos dias!
Frederico ficou perplexo por alguns instantes, e depois falou lentamente:
-Não diga mais nada, Joana... porque eu te conheço demais e não sei como pode falar assim de um ser humano que pra descobrir a vida só terá a nós dois.
Joana calou-se, e nos dias seguintes seria impossível que ela não se convencesse de que o melhor seria mesmo superar todas as dificuldades e seguir o fluxo de seus destinos.
E nos anos seguintes, uma criança poderia deixar de reclamar por ter um pai feio e burro demais, e passar a agradecer por ter um pai humano demais.
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