Surgiu de uma rua simpática, embora tivesse poucas árvores. Carregava uma dessas pastinhas de estudante, meio pendurada no ombro, ar jovial. Uma boca cheia de dentes, sorriso descontraído.
Trazia o cabelo preso por uma fitinha discreta, percorrendo a rua com olhos castanhos, levemente clareados pelo brilhante sol da manhã.
Comia ou mastigava um chiclete, fazendo bolas de quando em quando, pulando numa imaginária amarelinha desenhada na larga calçada.
De tanto pular deixou cair uns livros. Um romance clássico de Dostoiewski, Crime e Castigo. Também haviam canetas, um caderno com foto de artista, um texto que tentava decifrar Foucault. Também um telefone celular da moda, todo cheio de adesivos.
Cinco marmanjos se prontificaram a ajudar instantaneamente. Sorrisos e babas tomaram conta da calçada, encantados com a graciosa figura.
Toda sorrisos, agradeceu. Um deles perguntou o tema do romance. Discorreu para os cinco em breves palavras a genial criação do escritor russo. Depois explicou também o pensamento de Foucault.
Os marmanjos todos ficaram extasiados vendo a jovem explicar os princípios libertários, a necessidade de mudanças propostas pelos autores, separados pela poesia e pelo texto analítico, embora com tendências que se assemelhavam em muitos pontos.
Um raio mais quente de sol feriu o rosto da jovem, que protegeu a face por detrás de uma generosa árvore, enquanto ensinava aos admiradores a diferença conceitual dos autores russos e franceses no campo do romance social.
A sombra refrescou seus ombros, generosamente expostos, que pediram o calor dos cabelos.
Soltou as grandes mechas sobre os ombros, deixando loucos os protótipos de garanhões, que se esforçavam em buscar perguntas inteligentes para prolongar o diálogo com Fátima.
Acabou sendo escoltada pela tropa de apaixonados até a escola, deixando os negros cabelos balançarem ao vento, liberando a imaginação dos cinco Raskolnikov. |
