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cronicas-->Cidadania doentia -- 20/01/2003 - 00:35 (Hamilton de Lima e Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

José acordou com dor de cabeça, dificuldade respiratória, nariz escorrendo. Sentou na cama, olho para a esposa dormindo e lembrou que havia um motivo para trabalhar. O berço do nenê também reforçou a vontade.
Deu alguns passos e percebeu que conseguiu uma gripe jogando bola. Podia ter sido efeito do chuvisco ou da concentração, onde haviam muitos jogadores, algum deles talvez gripado. Não podia levar isto em questão.
Era professor de escola pública. Tinha que lecionar para 240 alunos por dia, empregando todos os horários para ter um salário que compensasse as despesas.
Espirrou forte, projetando no solo uma plasta de catarro. Limpou logo para evitar dissabores com Clarinha. Pensou em buscar o auxílio de um médico. Fez análise do quadro.
Atestado para uma gripe? Qual médico lhe passaria? Com certeza receitariam uma injeção, comprimidos para dor muscular e o mandariam ao trabalho. A não ser que estivesse quase morrendo.
Pensou na China, criticada por ser comunista. Lá um cidadão gripado anda de máscara, para evitar que todos sejam contaminados. Também evita a perda de capital e de dias de trabalho.
Não havia nenhuma máscara em casa. Tinha que andar depressa, passar o café, para que pudesse chegar logo ao ponto de ónibus, onde se misturaria a mais 100 almas até o centro. Lá utilizaria mais um circular, lotado, para chegar à escola pública municipal.
Fez os cálculos. Contaminaria umas duzentas pessoas dentro dos ónibus. Depois as salas de aula, envolvendo 240 alunos. Mais a sala dos professores, onde 50 almas teimavam na profissão de ensinar.
Merecia ser preso pelo prejuízo social causado por alguns espirros. Mas por outro lado garantiria a venda de todos os tipos de remédios, algumas internações, talvez o enterro de algum velhinho ou criança nova que pegasse o vírus retransmitido. E com certeza poderia até afastar alguém do emprego durante alguns dias.
Se fosse em busca do atestado poderia evitar tudo isso. Mas o médico poderia duvidar de sua masculinidade. Os superiores poderiam achar que ele era preguiçoso. Ficaria mal visto. E os pais dos alunos? Poderiam dizer que o homem era frouxo.
Desistiu do atestado. Era melhor ser considerado um irresponsável do que frouxo. Foi tossindo durante todo o trajeto do ónibus. Percebeu que a gripe também era um ato de cidadania no Brasil.
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