Perdoem-me pelo fardo de uma saga depressiva,
Transcrita na escrita de um papel reaproveitado.
Perdoem-me as repetidas dessa saga miserável,
Que eu achei que fosse lida, e é sina tão falida.
Perdoem um ser prolixo que começa pelo meio,
Pois lhe falta o centeio. Ou integral? Objetivo!
Mais um dia, atrás da sua recompensa artística,
Aquela, a mais querida. Aplausos não enchem a barriga.
Mais um drible da bandida, ou rasteira, não na cama.
Mais uma noite de falência, onde só lhe resta a fama.
Segue a lua tão felina. O sereno banha-lhe a alma,
Enche de orvalho seus ouvidos,
E como quem engana, acalma.
Faz-se como noite de Recife, sempre pobre, mas feliz.
E assim desfruta do perfeito, do agradável, do certo.
Mas não enxerga, está cego, surdo pelo orvalho caído.
Faz-se frágil, tão menino, esquece que a noite é escura.
Entrega-se aos braços da loucura, da penumbra, do breu.
De certo que enlouqueceu, num lampejo de lucidez.
Lembrou-se do que não fez, do coice daquela mula.
Chora, na volta à vida, as únicas coisas puras,
Suas lágrimas que de tão ressentidas
Fizeram-se grossas e escuras.
Alisson Castro.
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