Esta história nasce no departamento do Beni, onde um niño rebelou-se contra seus pais, depois de ser obrigado a comer saltenhas durante cinco anos consecutivos.
O garoto sabia que haviam outras opções de alimentação, mas o pai, Pedro Bisogno, não deixava Estelita Buena Cocha se aventurar em outras especialidades.
Panguelito foi desenvolvendo uma grande ansiedade, e quando todos esperavam que ele seguisse a tradição familiar, aprendendo a tomar tequila com saltenha e mastigando folhas de coca, o garoto sumiu.
Bisogno atribuiu o sumiço do garoto à falta de cuidados de Buena Cocha, mas não teve jeito. Houve choro e ranger de dentes naquela casa.
Panguelito cruzou a fronteira, dentro de um cesto de vime esquecido no canto de um pequeno barco, anónimo e cheio de fome.
Teve a sorte de encontrar um comerciante sírio que lhe deu uns quibes. Experimentou a comida do árabe e gostou, comeu quibe durante muitos dias.
O sírio foi embora e em seguida Panguelito começou a pedir comida nas casas. Numa delas experimentou mandioca. Adorou. Perdido em Guajará, conheceu mineiros e comeu quiabo. Depois pepino, e outras coisas, sempre apreciando as novidades.
Já aos treze anos, na fase da puberdade, esteve na Bolívia de novo, em Riberalta. Ninguém o reconheceu, mas um motorista de caminhão que lhe despertou amizade convidou-o para ir ao interior do Brasil, na cidade de Campinas.
Panguelito foi, gostou e ficou na cidade. Estudou, conseguindo atingir o curso superior, na área de ciências exatas. Especialista em projetar obeliscos. Construía e depois ficava admirando.
Por estes acasos que o destino reserva, um dia encontrou uma senhora boliviana vendendo artigos na feira. Ouviu a história de um menino que só comia saltenhas e lembrou de sua infància.
A velha senhora lhe indicou o caminho e Panguelito voltou ao seu país, cheio de esperanças de reencontrar seus pais.
Foi decepcionante para Bisogno e Buena Cocha. Seu niño voltou totalmente transformado. Nada mais de saltenha e tequila, apenas plumas.
Boliviano moderno, levou a tiracolo um namorado. Bisogno renegou o filho, e Buena Coxa sentiu atração pelo genro. Foi uma grande confusão. El maricon, como ficou conhecido, teve de deixar o país novamente, mais uma vez incompreendido .
Continua construindo obeliscos em Campinas e cidades vizinhas, mas perdeu o apoio de seus pais, os conservadores Pedro Bisogno e Estelita Buena Cocha. É um rapaz alegre, apesar de tudo. |