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Contos-->Blablablá -- 13/09/2000 - 13:48 (Maria Abília de Andrade Pacheco) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vá lá, invente boa trama para conquistar. Invente boa trama e espere o dia da resposta. Durante longos anos eu estarei de corpo presente, ouvindo e escutando, escutando e ouvindo sua vida continuar. O plano é simples: você fala, eu escuto. E ainda adivinho, de lambuja, o que vai por trás de seu esmero na escolha das palavras, de seu estrebuchamento por trás da dor que o macera. De que fala você, hem? Que país conhece? Até onde terá ido em suas madrugadas de luz de velas? Quem você é quando me conta seus dilemas, suas fugas? Pois foi ouvindo que pude saber que tenho bons ouvidos e não sou surda. Soube da dificuldade de voar na imaginação quando o que tenho pela frente é uma conversa pálida e alfinetante, que quer me despertar algum fragor. Silêncio. Psiu, não fale. Controle-se e faça de conta mais uma vez, e tenha fôlego para se repetir muitas outras vezes vida afora. Resguarde-se. Um trovão ecoa dentro de mim, e sou uma criatura oca, cheia de espaços por massacrar. Escolha onde quer atingir. De preferência onde mais dói e não fica nódoa - a perícia de não deixar rastros. Ainda falta muito para eu ser vencida. Saiba que não queimarei fogos quando sentir que para mim não dá mais. Insistente e silente eu sou. Nos meus labirintos, tenho muitas gavetas para abrir e trancar enquanto o punhal se lapida. Um brilho ingênuo da passamanaria enfiada nas tranças quer maneirar a fadiga. E haja trancinhas e tererês para me acordar do desmaio que vem e punge. Lá vem mais uma ofensa, mas não quero perder nada, quero ser a vítima, mostrar humildade até que o galo cante. Lá nas grimpas do dia, serei uma mulher dessas que no sinal fechado depara com o rapaz que vende quinquilharias aos motoristas. Ele pode mandar um beijo, já pensou? Onde enfio esse pedaço da história que agora toma outros rumos? A mesma boca do início rumina velhos fraseios, e encontro jeito para um pouco de doçura. Potinhos com frutas pintadas a mão são azedos e ternos. Vai um pouco do sangue da cozinheira na calda de suor e sonho? Com uma pitada de meiguice, para não perder o costume. Essa frase de hoje ressoou fundo na carne, e como dói sentir o eco, voltando, voltando, freando, derrapando, ameaçando cair no abismo e de repente se refazendo no ritmo da velocidade controlada por radar, até que vem a buzina. Ainda bem que se morre de um pulo. Ainda bem que se sabe que se morre. O quando não interessa. O quando um dia vem e arremata. Que bom se tudo corresse frouxo, sem ritmo, se viesse a coisa duma vez e tchum. Como o beijo ousado do rapaz: veio no ar e cravou um estalo na face por inteiro. Lambuzado e melado o beijo. Mas bem que clareou a tarde e deu um arco-íris no que era só um princípio de chuva. Não pensar. Não contar o que se passa. Guardar e velar. Para não ferir, não ser ferida, não sofrer nem fazer sofrer. Não despejar. Tampar hermeticamente tudo em potes de geléia de frutas. Sem risco de intoxicação. E guardar na geladeira para saborear de caso pensado, esquecida de qualquer vingança. A maior vingança que pode ser é essa de flanar entre as maledicências com suavidade e elegância. Imune à saraivada de perdigotos. Com um escudo invisível, restaurado quando a consciência se permite o luxo. Um lazer quieto. Que não incomoda ninguém. Que é só sinal de que algo pode estar acontecendo por dentro de quem deixa tudo ir embora no rio. Assistir sem compartilhar. Não fazer nada, que não cabe a ninguém parte nenhuma em nenhuma obra do universo, que não estamos aqui para montar quebra-cabeças. O negócio é se aquietar e amarrar a língua. De lábios cerrados o beijo é mais guloso, porque permite o sonho. Mas melhor ainda é não deixá-lo acontecer, para não desperdiçá-lo. Guarde essa camisa passada com todo o carinho que pedem os vincos. Acomode-a na gaveta sem machucá-la. Roupa encarquilhada é desmazelo. E não estou aqui para isso. Que o mínimo que espero, eu mesma, de mim, é um pouco de organização nesse caos de pregas e amarrotamentos. Ora, bolas, que não passamos de faxineiros da
realidade. Então?
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