O homem parou na praça Rui Barbosa, perguntando ao policial onde ficava a vila Áurea, como fazia para ir até lá, preço da passagem e outros detalhes. O policial indicou o terminal da praça Carlos Gomes, informou que a linha de ónibus era a do Boqueirão, e que o custo era R$1,25. Também explicou que o homem prestasse atenção logo que fosse ultrapassado o viaduto da avenida Marechal Floriano Peixoto sobre a BR-116, que ali começava a vila Hauer, um tradicional bairro de Curitiba, colonizado por catarinenses e gaúchos, e que por muito tempo pertenceu aos Hauer, oriundos da Alemanha.
O homem agradeceu, disse que já havia morado no "Boquerão" quando criança, mas que "azulivre", a cidade mudou tanto que nem reconhecia mais. Era do tempo em que o Ferroviário ainda mandava no futebol paranaense - o Ferroviário deixou de existir para dar lugar ao Colorado no início dos anos 70.
O policial entendeu que "azulivre" queria dizer Deus me livre, um termo comum aos moradores dos bairros de Curitiba, principalmente os que chegaram do interior até os anos 80.
Segundo o homem, "nós imo embora para Rondónia, depois passemo por Goiás, fumu para Campo Grande, se estabelecemo, ganhemo dinheiro e agora vortemo para rever a cidade".
O policial atencioso orientou o homem para que não demonstrasse que era de fora, que a cidade estava mudada, com assaltos nas ruas do centro e até mesmo pela periferia. Principalmente na rua Quinze de Novembro, onde pivetes e trombadões atacavam pessoas de idade e mulheres distraídas, levando bolsas sem cerimónias. Grupos grandes, muitos menores de idade implorando os direitos do Estatuto da Criança e do Adolescente no momento da detenção.
O homem perguntou em que bairro morava o policial. Ao saber que o agente da lei residia na Barreirinha puxou conversa sobre uns amigos de origem polonesa, os Kovaleski. Também tinha a família Kuchar, o seu Strowonski, os Walesko, os Bialeski, os Morazewski, e outros mais, com os quais tomara contato quando criança.
Contou que seu pai morava na vila Áurea e integrou o time do Vila Fani durante algum tempo, enfrentando o pessoal do Combate Barreirinha no grande certame amador.
Percebendo que o homem nunca encerraria a conversa, o policial parou uma viatura que passava na praça e pediu que o levassem para a vila Hauer, inventando uma emergência qualquer.
O caboclo foi embora agradecido pela prosa. |