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Artigos-->O DESAFIO -- 12/05/2023 - 18:44 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O DESAFIO



Jan Muá



12 de maio de 2023



 



Me contaram na minha juventude, uma lenda, em que se dizia que numa aldeia portuguesa, nos arredores da cidade de Braga,  Norte de Portugal, em tempos antigos, um jovem casal de namorados foi pressionado pelos pais de ambos os lados para se casarem num prazo de três meses. Era no tempo em que os pais mandavam até na cabeça e nas emoções dos filhos. Eles não tinham ainda autonomia. Não tinham emprego, moravam com os pais e, aparentemente,  não tinham como tomar uma decisão própria. A vida para eles era uma interrogação cheia de incertezas. A mocinha, de nome Leonor, frequentava a igreja do mosteiro de Tibães. Havia familiares que queriam que ela fosse freira. Queriam que ela recolhesse ao mosteiro e  aliviasse, com sua decisão,  a carga econômica e financeira da família. Mas ela tinha cabeça própria e não estava nem aí com a sugestão feita pelos familiares. O namorado tinha paixão pela arte de cavalaria,  em grande estilo naquele tempo. Nos ambientes masculinos do tempo eram celebrados os feitos heróicos dos cavaleiros portugueses nas batalhas de Atoleiros e Aljubarrota sob o comando de Nuno Álvares Pereira que pôs  os exércitos castelhanos para correr. 



No desdobramento da história destes dois namorados, um narrador deu os seguintes detalhes:



"Ao tempo da pressão da família e da circunstância da nula autonomia que tinham para sobreviver, os dois namorados combinaram, um dia, realizar um passeio para conversarem mais a fundo sobre o futuro que os preocupava. Fariam uma caminhada até ao santuário de Bom Jesus do Monte nos arredores da cidade dos Arcebispos. Havia ali um lindo parque, uma escadaria famosa com os passos da cruz. Um espectáculo. Tudo bonito e convidativo tanto para turistas como para moradores da cidade.



 Levariam uma merenda, fariam um pick-nick. 



Sentariam à sombra das faias, sub tegmen fagi , como diria Horácio. Estenderiam uma toalha grande no chão. Colocariam ali as cestas de lanche para curtirem companhia e merenda e conversariam sobre os detalhes de uma resolução urgente que teriam de tomar em conjunto para definir seu futuro. Tudo muito romântico. Mas também muito sério, pois a resolução que tomariam seria para eles o grande desafio para enfrentar sua vida futura. 



Chegaram ao local a meio da tarde. Subiram a escadaria do Santuário do Bom Jesus. E lá em cima procuraram um ambiente tranquilo e sossegado para cumprir a promessa de conversarem e merendarem.



- Pode ser aqui, disse Leonor, ao descobrir um lugar muito ajeitadinho.



-Perfeito, disse Anão Vaz.



Estenderam uma toalha grande no chão, como era costume no Norte de Portugal. Colocaram as cestas e as gigas em cima. E organizaram tudo para que o passeio desse os melhores resultados apoiados no bom convívio. Conversariam enquanto merendavam. Já sentados, Leonor começou por dizer:



-Olha,  Antão Vaz. Eu estive pensando. E jurei que faria de tudo para não interrompermos nosso namoro. Somos filhos de família. Não temos dinheiro nem autonoma para nos sustentarmos. Essa é uma realidade evidente Mas somos jovens. Temos saúde. Tudo está nas nossas mãos.



Admirado pela firme tomada de posição de Leonor,  Antão Vaz apoiou e disse:



- Tudo está nas nossas mãos, sim, Leonor. Temos um desafio. E compete a nós responder.



- O desafio, Antão Vaz, retornou Leonor, tem regras para o entender.



- Duas regras, acrescentou. A primeira delas é a de nos unirmos como família. A segunda, a de fundar esta família  na pedra angular do amor. São regras absolutas que dão futuro.



- Antão fez gestos  e acenou com a cabeça manifestando inteiro acordo. E acrescentou:



-Sim,  querida Leonor. Teremos uma dura caminhada pela frente. Uma caminhada que ao longo dos anos misturará alegrias com dores mas que a  graça de Deus saberá tornar mais leve ao nos pedir colaboração na fé e na esperança.



- A grande pedra de apoio, disse ainda Antão Vaz, estará no ideal de amor que escolhemos para construir nossa família.



Sabemos que nos dias sombrios seremos visitados umas vezes pela contrariedade, outras vezes pela carência, outras vezes pela dor.



Sabemos que a vida também tem sofrimento. Mas... firmes em nossos ideais ... haveremos de ter fé para que as coisas mudem em direção à paz e à alegria. 



A tarde avançava.



Era hora de recolher.



Leonor estava tranquila. Tinha encontrado o homem que apostou nela. Tinha a certeza que sua própria aposta no Antão iria ter como prêmio uma vida de família serena, alegre e abençoada por Deus.



Isso, porque estava apostando na construção de uma família construída na base do amor.



Arrumaram as cestas e as gigas e aos poucos foram descendo a escadaria da Via Crucis do Santuário.



E, felizes, retornaram a suas casas embalados pela esperança  e pela certeza de que tinham encontrado uma resposta concreta para o desafio de suas vidas no futuro que se avizinhava".



Brasília, 12 de maios de 2023



Jan Muá


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