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Cartas-->Carta ao amigo que virou pedra -- 04/02/2003 - 20:42 (Jorge Facury ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

CARTA AO AMIGO QUE VIROU PEDRA

Caríssimo amigo, espero que esta mensagem lhe chegue em breve.
Desde que recebi notícia pelo nosso velho companheiro pescador (que vendeu o barco e agora está indo para a Capital, pois se meteu a conquistador e anda de vai e vem com uma dona endinheirada lá do Bexiga), de que você se transformou numa pedra, fiquei meio sem saber o que lhe escrever. Não pense que fiquei chocado. Não, sinceramente,não é esse tipo de coisa que me choca ultimamente. Há coisa pior acontecendo no mundo do que virar pedra. Aliás, se esse fosse o destino de todos nós, talvez constituísse problema saber que tipo de pedra a gente ia ser. Há hoje no mercado pedras caras e pedras vagabundas, até nas pedras o maldito e velho capitalismo impõe valores. Por sinal, ouvi dizer que há uma firma americana que já tem tecnologia para transformar o pó de gente cremada em diamante. Ouviu falar? Assim, você pode guardar alguém querido num porta jóias especial na sua estante...Vê que coisa, como as maravilhas da tecnologia se movem no espaço, qual pipa de um menino, servindo aos nossos sonhos , ambições e loucuras?
Sonhos, ambições e loucuras... Não, não acho que sejam coisas ruins, pelo contrário, acho que nos movem sempre para frente, o diabo é que dependem sempre e em boa dose, do dinheiro, essa coisa inventada pelo tinhoso e que faz desandar tantos por aí sem contar ainda que, se facilitarmos, nos joga na mais absoluta diferença (e indiferença) uns em relação aos outros. E isso nem tanto pelo que somos, mas, pelo calibre social que nos cobram ora ou outra na escalada da vida.
Mas, como eu dizia, há não muito tempo encontrávamos propaganda nas revistas, sobre pedras preciosas, hoje não tenho visto mais. Ou, então tenho lido as revistas erradas. Os comerciais davam indicações acerca da lapidação e a luminosidade de brilhantes que iam de ¼ a 2 ou mais quilates, e por aí afora.
Ia perguntar se você tem ido tomar aquela cerveja gelada lá naquele barzinho da rua do cemitério, nosso cantinho de saudade, mas, sou sincero, fico achando que isso não deve estar acontecendo mais... É, fico a imaginar como se dará a relação física entre você e os mais simples objetos de desejo, como a garrafa de cerveja e o copo... Mas, esqueça, acho que sou mesmo um idiota em ficar pensando nisso...
Tem lido algo de bom? Não sei se é possível mover os olhos estando empedrado. Seja como for, não se chateie, é melhor do que estar, como muita gente está, empedernida por aí... Tem gente viva que tem um coração de pedra e não sabe. Você é mais autêntico sendo duro por inteiro.
O nosso amigo pescador disse que você se sente bem melhor assim, por não se ver mais assolado pelas emoções negativas, porque afinal não sente mais emoção nenhuma.
Mas, me diga, se essa moda pega e todo mundo vira pedra assim (os geógrafos, geólogos e outros das ciências físicas nos dividiriam em gêneses diversas e jamais diriam pedras, mas rochas) como ficará este mundo? Não me responda, que ainda não quero pensar seriamente sobre isso. É só uma perguntinha- síntese. Síntese do quê também não sei. Ultimamente estou assim mesmo, meio desligado de tentar entender muito profundamente as coisas.
Interessante né, lembrei-me agora mesmo, quando um “louco de pedra” passar por esse processo seu, deverá ser identificado como louco de pedra no sentido figurado e no literal. O mundo sempre se torna mais complexo...
Bom, espero ter alguma notícia sua breve. Como será a sua resposta nem imagino, mas, espero que não me mande nenhuma mensagem em folhas de pedra como as que Moisés recebeu. O carteiro me maldiria...
Se tiver alguma novidade sobre os nossos amigos e amigas que não mais vi, conte algo sobre eles. Aquela tua namorada, que fim deu? Virou um paredão? Afinal, era um mulherão! Se lembrar, dê um abraço no João Tiziu, nosso amigo das noitadas imprevisíveis. Se por acaso ele também empedrou avise que logo que der irei visitá-los.Antes passarei em ponta Grossa, Paraná para uma visita às belezas naturais de Vila Velha, estou tirando uns dias de folga, será uma preparação psicológica, concorda? Poderei ensaiar uns diálogos com aquelas formações rochosas. Sei que não tem nada a ver.Elas estão lá desde sempre e você passou por uma metamorfose. Mas, Fantástico mesmo é o modo a que estou me entregando em temer a vida, pelo que está reservado à frente. Sinto que posso a qualquer instante virar água...
E vou querer ficar dividido em dúzias de garrafas de cerveja... Até que a próxima chuva nos traga uma novidade do reino das cantáritas, para prosearmos, por aqui andou aparecendo um tal Chupa-cabras. Dizem que foi um bom bicho sempre, mas muito mal falado resolveu se mudar para a casa da avó que sempre lhe dispensou carinho. Lá, tentou apavorar a vizinhança e não conseguiu. Voltou pra casa, acho que frustrado, tomou um tranqüilizante e dormiu...
Bom, estamos conversados.
Curta a sua dureza, sinta-se em paz com a natureza. Sem medo, sem dissabor.
Eu, por meu lado, sigo na moleza. Por mais uns dias, admirando a força das marés, que como as pedras, parecem eternas...
O amigo de sempre.

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