Estou ouvindo melodia imortal, se é que o nome é esse mesmo, mas é do amigo Chopin. Digo amigo pelo fato de ser um bom companheiro nessas horas de melancolia. Integra o cenário do exílio de forma muito apropriada.
Tem a leveza necessária para se produzir um bom texto ao invés de recorrer à s lágrimas. Por falar nisso, encontrei de novo a guria que me viu em prantos naquele dia. Sorrimos no reencontro. Passou uma coisa estranha pelo pensamento. Poderíamos rir mais um pouco, mas por motivos profissionais pulamos do bonde logo ali. Ela foi embora e esqueci seu nome.
Mas ela não precisa de um nome especial. Eu posso encontrá-la novamente. É só uma questão de boa vontade. Daquela vez segurou meu braço, e sem querer trouxe um carinho que não esperava, então chegaram lágrimas, inconvenientes, mas sinceras.
Acho que foi isso que tornou o rosto dela especial. Não sei dizer se é sempre especial, mas naquele dia, na antecàmara do inferno foi. Suave, quase angelical.
O som continua. Willians, agora leve e suave, sem a tristeza do Chopin. Faz pensar que ela voa, desliza sobre estrelas, passeia sobre nuvens. Talvez um chavão holiwoodiano, qualquer coisa criada na renascença.
Se voa me convida para planar também. Sou refém da esperança. É o que me sustenta.
Também ela, fugindo de Dante e sua concepção medonha.
Naquele dia percebi que os sonhos à s vezes são bobos, e o real tem mais importància, potencial inenarrável.
É som, quem sabe por causa dela. Tchaikowsky. Trilha de Fantasia, o filme que ganhou Oscar do Disney.
A musicalidade combina um pouco com os cabelos dela. Algo grave, algo arrumado, porém descontraído.
Ela sabe fugir do inferno de Dante, carregando esperança de um ponto a outro. Esperança? algo parecido com certeza. Dorme agora? Já conquistou o direito de repousar após zelar pelo sono dos incautos?
A música brinca no aparelho, testemunha de um esforço sem graça de tentar pensar em algo concreto.
Concreto mesmo só o sorriso. O olhar amigo da guria. Besteira tentar descrever melhor. Algo solidário para um homem solitário no exílio. Um olhar digno de algumas letras, quem sabe um pouco de amor platónico.
Algo parecido com isso, ao som de Cavalieri e Brigati; para fechar, ou abrir corações.
|