Está frio. A temperatura de todo o país cai abruptamente, seguindo o efeito Luxemburgo, o grande pé-frio do futebol competitivo. Os rondonienses descobrem que precisam ter um cobertor velho de reserva, ou pelo menos um terno, casaco ou pedaço de plástico para se proteger dos ventos polares, que ultrapassam a Cordilheira dos Andes, as matas, e lançam sobre a hiléia amazónica seus gases gelados.
O telefone, instrumento de ouvir besteiras, me avisa que existe um leitor preocupado. Com as formiguinhas. Da Bavária.
Uma indústria química alemã está querendo destruir as formiguinhas amarelas da Bavária. Formiguinhas que se alimentam de restos de lúpulo, aquele negócio que os fabricantes de iogurte utilizam para azedar o leite. Creio que seja este o termo. Quem sabe direito é o pessoal dos laticínios.
O leitor, ecologista consciente, me avisa que as formiguinhas amarelas da Bavária tem importante conceito para a identificação dos germanos, pois estão lá desde os primórdios da história. Foram testemunhas do nascimento do sistema feudal, aquele que estabelecia relações de produção em que alguns eram nobres e outros eram vassalos. As formiguinhas, espertas, morderam e comeram cadáveres tanto de uns como de outros. O sistema feudal se espalhou pela Europa, sendo suplantado pelo capitalismo muitos anos depois, e as formigas testemunharam toda essa história, onde a metamorfose produtiva dos homens influenciou o modo de vida dos insetos, que foram se adaptando aos primatas que dominaram a terra.
As formiguinhas começaram a causar encrenca, tão logo mudaram os hábitos alimentares, e um cientista local, Hans Von Hertz, desenvolveu um produto que vai acabar com todas elas. O sistema de extermínio é baseado nos hábitos alimentares das formigas, que se lambem após as refeições e roçam as antenas para indicar o caminho dos depósitos de comida.
O leitor sugere que eu escreva um artigo, envie um e-mail para a República da Alemanha, e que organize uma passeata de protesto no município de Cabixi, onde também existem formigas.
Sou obrigado a lembrar que devo publicar notícias e tentar ser neutro, ainda mais que não tenho fontes na Alemanha, pedindo assim desculpas por não abraçar a causa das formiguinhas. Mas juro que se houver mudança nas condições de trabalho, faço uma reportagem especial sobre elas. Em todo caso, a notícia já corre a Amazónia. |
