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Artigos-->PAULO COELHO E A ACADEMIA (Eles se merecem!) -- 29/05/2002 - 01:03 (Wagner Annibal de Mello Santos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Novamente, Paulo Coelho se apresenta como um dos candidatos à vaga de imortal, cogitando o “mago” em figurar como um dos luminares da Academia Brasileira de Letras. Sobre isto, convém que se discuta dois aspectos importantes da questão: que tipo de obra é a de Paulo Coelho e que tipo de instituição é a Academia Brasileira de letras.



Um mago de mídia



O atual “mago” que faturou milhões de dólares explorando o filão do esoterismo despontou na década de 1970 como parceiro do cantor Raul Seixas, sendo autor de letras de canções de sucesso, como “Eu nasci há dez mil anos atras” (observem o erro de português gritante neste título) e “Gita”, entre outras. De cabelos compridos e acalentando a idéia de uma “sociedade alternativa”, disposto a romper com a caretice e o convencionalismo (nesta época certamente não aspirava uma vaga na Academia), Paulo Coelho ensaiava seus passos como escritor, lançando Os arquivos do inferno e o Manual prático do vampirismo, entre outras produções esparsas que não alcançaram sucesso.

Após sofrer prisão e maus tratos na truculência do regime militar, Paulo Coelho trabalha e viaja, compõe para Rita Lee e Elis Regina, aprofundando-se nos caminhos de um esoterismo que já era moda desde fins dos anos 60, com Louis Pawels e Jacques Bergier (autores de O Despertar dos Magos), esoterismo este regularmente difundido na revista Planeta. É a mesma época do sucesso de Lobsang Rampa, um pretenso monge tibetano que seduziu o ocidente com livros como A terceira visão e O médico de Lhasa, permanecendo como uma figura controvertida – sábio, para uns, charlatão, para outros. Também Helena Blavatsky e Aleister Crowley (cujas idéias Paulo Coelho e Raul Seixas chegaram a flertar, aqui no Brasil) engrossavam o filão do esoterismo, nos anos 70.

Em fins dos anos 80, Paulo Coelho surge como “mago”, após fazer o “caminho de São Tiago”, uma tradicional e milenar rota de peregrinação mencionada Marguerite Yourcenar em A obra em negro, a história de um alquimista do século XVI. O “mago” lança O alquimista, que alcançou imediato sucesso, seguindo-se O diário de um mago, onde relata sua peregrinação e revela uns experimentos místicos, semelhantes aos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola). Ao longo da década de 1990, surgem Brida, As valquírias, Na margem do rio Piedras, O monte cinco, ao mesmo tempo em que a mídia dá ampla cobertura (nem sempre elogiosa) de seu trabalho, pois o “mago” permanece na lista dos mais vendidos por tempos e tempos. E viaja mais, deixa-se fotografar com o Papa, com Bill Clinton, com inúmeras outras celebridades, fatura milhões de dólares e tem seus livros traduzidos para dezenas de idiomas. Um estrelato de fazer inveja, afirmando ser capaz de fazer chover e ventar, que sabe a data de sua morte, que faz rituais cabalísticos e pertence a uma ordem iniciática internacional e muito velada, cujos mistérios estaríamos longe de cogitar...

Sob o ponto de vista mercadológico, seu talento é incontestável. É lido em Washington e em Teerã, é reverenciado na França e nos demais países da Europa, vendendo cerca de 40 milhões de exemplares. De uns tempos para cá, nosso o mago acaricia a esperança de adentar à Academia Brasileira de Letras e figurar entre os imortais, decidindo então fazer uma “literatura de qualidade”, com menos esoterismos e mais densidade, digamos, existencial, ou qualquer coisa que o isente do estereótipo de “mago”, para conferir-lhe o status de “escritor”. Debruçou-se sobre temas complexos e universais, como a morte (Veronika decide morrer) e o bem e o mal (O demônio e a srta. Prinn), evitando o misticismo e tentando um estilo mais apurado e uma temática mais densa, porém, seus livros já não permanecem mais tanto tempo na lista dos mais vendidos...

Não se pretende atacar Paulo Coelho, em nível pessoal. É um homem inteligente, sabedor das “receitas de sucesso” de público, muito viajado e inegavelmente carismático. Sua obra se enquadra num gênero que não pode ser considerado literatura, no sentido específico de arte literária, do mesmo modo que também não se enquadram as obras de Lobsagn Rampa ou os livros psicografados por Chico Xavier.

A “obra” do “mago-escritor” (ou seria “escritor mago”?) pertence a uma categoria à parte, identificada com o consumo das massas e, apesar das pretensões místicas transcendentalóides, jamais sua obra poderia se enquadrar no conceito que Walter Benjamim designou como “a grande obra de arte”. Bem distante se encontra de Guimarães Rosa, Machado de Assis, Monteiro Lobato, Lima Barreto e outros escritores – no lídimo significado deste termo. Poderiam os ingleses considerar este tal de Hary Potter no mesmo patamar das obras de Shakespeare, Bernard Shaw ou James Joyce? Os romances-de-consumo de Sidney Sheldon e Harold Hobes possuem a mesma densidade de Dostoievsky ou Jorge Luís Borges?



Academia refugada



Há algum tempo o “mago” quer entrar para a Casa de Machado de Assis. Se este já foi chamado “o bruxo do Cosme Velho”, por que não poderia ter um “mago”? Cá entre nós, uma academia que rejeitou Lima Barreto e Jorge de Lima, não pode mesmo ser levada muito a sério, sobretudo quando passamos em revista alguns “imortais” de discutível talento: o general Lira Tavares, o poderoso jornalista Assis Chateubriand, os presidentes Getúlio Vargas e José Sarney... Nem é preciso maiores exemplos para se reconhecer a validade das palavras do crítico Agripino Grieco, para quem “a Academia é um sodalício em decadência, em que a sucessão dos defuntos se opera pela admissão de novos defuntos, e dela só poderá sair perfeito um tratado sobre arte culinária” (É pena Grieco não estar entre nós para comentar a obra de Paulo Coelho!) Uma academia que rejeitar o poeta Jorge de Lima merece bem merece um “mago” como Paulo Coelho, cujo talento mercadológico excede o pretenso talento literário. Lamentavelmente, muitos brasileiros desavisados pensam que sua obra é literatura e que a Academia é, de fato, uma confraria de escritores talentosos - escritores no lídimo sentido da palavra.





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