Eu juro que tinha a intenção de impressionar a moça, demonstrando um pouco de intelectualidade, visão política de mundo, estas bobagens que atraem pessoas e podem iniciar um namoro. Foi então que resolvi recortar um texto do brilhante Augusto dos Anjos e enviar pela internet, para posterior discussão.
O texto escolhido foi Psicologia de um vencido, traz uma singela expressão de amor a vida, não compreendida por muitos: "Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilància, Sofro, desde a epgênesis da infància,
A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco,Este ambiente me causa repugnància...
Sobe-me à boca uma ànsia análoga à ànsia Que escapa da boca de um cardíaco. Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar apenas os cabelos, Na frialdade inorgànica da terra!"
A verdade é que não recebi a resposta esperada. A figura em questão disse detestar Augusto dos Anjos, sua linguagem iconoclasta e científica, sua capacidade intrínseca de ser inconveniente através dos séculos.
Vendo que perdia terreno parti para a defesa do poeta, um homem que viveu a angústia de uma existência sem ter remédios como o Prozac, psicólogos e terapeutas especializados em ouvir.
Argumentei que no tempo de Augusto a sociedade brasileira era ignorante, desconhecia os mistérios da ciência e preferia sempre mergulhar nas soluções fáceis apresentadas pelos religiosos e não gostava de pensar, daí que Augusto representa ainda hoje um marco na literatura e no pensamento nacional.
Ela contra argumentou que Augusto tentava através de palavras científicas esconder sua frieza e capacidade de amar, como fazem os intelectuais e pseudo qualquer coisa. Argumentou que só lia o Pequeno Príncipe, o grande livro de cabeceira das mulheres romànticas.
Perguntei se ela sabia que Saint Exupèry havia morrido sobre o Atlàntico Norte, na época da Segunda Guerra Mundial. Ela ficou braba, dizendo que o autor de um livro tão importante jamais morreria, e que somente um insensível como eu poderia admirar Augusto dos Anjos. É, nem sempre a gente consegue! |